Depois de histórico a quebra de relações diplomáticas, Israel e África voltam a aproximar-se. O que está por trás do apoio israelita contra o terrorismo e a cooperação militar no continente africano?
Para o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, a viagem que fez ao Leste de África em 2016 foi histórica. Aquela foi a primeira visita de um primeiro-ministro de Israel à África Subsaariana em mais de 20 anos, depois de uma série de rompimentos diplomáticos.
Depois de passar pelo Quénia, Uganda, Etiópia e Ruanda, o político israelita regressou satisfeito e anunciou uma nova era nas relações diplomáticas com o continente africano. Na ocasião, além dos quatro países que visitou, Zâmbia e Sudão do Sul também se comprometeram a cooperar com Israel.
Desde então, Netanyahu esteve outras duas vezes em África e discursou na cimeira da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), em junho deste ano.
Steven Gruzd, do Instituto Sul-Africano de Relações Internacionais, explica que as ligações entre Israel e África foram muito fortes na altura em que foi formado o Estado de Israel, em 1948, e também entre as décadas de 1950 e 1960.
"Havia muitos trabalhadores de Israel em África e muitos estudantes africanos a estudar naquele país. Mais de 30 embaixadas foram estabelecidas. Havia uma certa afinidade anticolonial, porque os israelitas se livraram da colonização britânica e a África estava a fazer o mesmo", explica o analista.
Menos vozes anti-Israel em África?
Este cenário mudou, entretanto, com a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Após um ataque de Estados árabes, as tropas israelitas avançaram para o Egito. O Governo egípcio acusou Israel de ocupar o solo africano, e os Estados árabes tentaram persuadir África a quebrar os laços com Israel.
A empreitada teve sucesso: de mais de 30 países africanos, apenas quatro mantiveram as relações diplomáticas com Israel. Na União Africana (UA), os palestinianos ganharam status de observadores, mas Israel, não.
O forte voto anti-israelita no seio da organização só se enfraqueceu com a queda de Muammar al-Gaddafi, na Líbia, em 2011. Além disso, a decisão do presidente americano, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel não gerou nenhum protesto de líderes africanos.
"Os políticos africanos tendem a ser muito pragmáticos e pouco preocupados com as ideologias do passado. O apoio aos palestinianos não é tão forte e universal como costumava ser", afirma Steven Gruzd.
Além disso, Israel passou a oferecer apoio na luta contra o terrorismo no continente africano. Em 2013, tropas anti-terrorismo de Israel aconselharam unidades de segurança do Quénia no terreno, durante o ataque terrorista contra o centro de compras Westgate, em Nairóbi.
Cooperação militar
Segundo o analista político queniano Martin Oloo, a cooperação militar entre Israel e países africanos é muito forte. "Israel sempre esteve pronto para oferecer apoio militar e treinamento. Muitos guardas de elite que fazem a segurança de figuras importantes em África são treinados por Israel. Israel continua a dar muito suporte logístico, militar e de segurança à África", sublinha.
Israel também oferece ações de desenvolvimento. Desde o início de dezembro, está a ser implementado o projeto "Power Africa", que tem o objetivo de garantir o abastecimento de energia a 30 milhões de africanos até 2030. A tecnologia de ponta israelista no setor agrícola também é atraente para o continente africano.
Por trás deste engajamento, há interesses maiores. Em junho, Benjamin Netanyahu disse que o país quer ganhar o status de observador na União Africana. O objetivo é dissolver o bloco gigantesco de 54 países que garantem a maioria de votos contra Israel nas Nações Unidas e em outros órgãos internacionais.
Países de maioria muçulmana como Marrocos e Senegal mantêm duras críticas contra Israel. O Sudão proíbe a entrada de cidadãos israelitas no país. A Mauritânia rompeu as relações com Israel em 2010 em resposta a um bombardeio israelita na Faixa de Gaza. Na África do Sul, há certa resistência devido ao apoio dado por Israel ao regime do apartheid.
Netanyahu ainda terá um longo trabalho pela frente para ampliar o apoio a Israel no continente africano.
DW – 13.12.2017