Crónica por: Leonel Marcelino
África, atormentada por fantasmas que a inibem de ser o continente poderoso que poderia ser, tantas são as riquezas com que foi dotado, é useira e vezeira na criação de heróis de pés de barro. Mugabe é disso um bom exemplo.
Aproveitando o contexto nacional e internacional e beneficiando do facto de ter uma formação intelectual superior em relação aos companheiros de luta, assumiu a fundação de uma nação nova – o Zimbabwe.
Tudo parecia ir dar certo. Adoptou medidas óbvias para alicerçar o poder e libertar o país da influência dos apelidados colonizadores.
Enfim, os argumentos do costume, como se houvesse país no mundo que nunca tivesse sido colonizado. Quando os bantus chegaram àquela região africana, quem vivia ali? Os nativos de outrora não foram colonizados? Os europeus de hoje não colonizaram os povos que viviam na Europa? Os americanos não fizeram o mesmo, na América? E os asiáticos? Enfim, as colonizações são uma realidade histórica em todo o mundo. Teimar na tecla de as culpar de todos os males que acontecem, não só é uma ignorância tremenda, como nunca param. Podem mudar de rosto, mas nunca param.
Por exemplo, e já que falamos de África, já reflectiram na forma subtil, como é seu timbre, de como os chineses assumiram a sua colonização, sobretudo escolhendo terras com água e reservas de minérios que interessam ao futuro da sua indústria? Armados em parceiros úteis, fazem o seu papel de colonizadores amigos, como se, em política, houvesse amigos.
Mas, adiante. Voltemos a Mugabe.
Acabou como quase todos os ditadores. Embebedado de poder, adoptou uma medida que conflituou com os interesses dos seus antigos companheiros de armas.
Quis passar para a mulher os seus poderes, nomeando-a sua sucessora. Erro trágico, pois sempre foi conhecida a “guerra” particular que aquela senhora nutria pelos velhos combatentes. Ora, ninguém gosta de perder o estatuto alcançado. Os velhos guerreiros usaram a força que têm para salvarem o seu “tacho”.
É o erro crasso de quem não aprende que não há senhores para sempre.
Mugabe passou de herói a vilão. Mantinha-se no poder apoiado na força do exército, até que tomou uma medida que prejudicava os que o apoiaram durante tantos anos, mau grado a sua acção desastrosa para o POVO. Os ditadores sempre esquecem o Povo. Que se passou em Cuba? Que se passa na Venezuela?
Enfim, que se passa em todos os países de partido único regidos por “Pais da Pátria” populistas e falhados?
Acabam sempre na miséria do povo, na corrupção, nos assassinatos ignóbeis, na destruição, na ruina. África é fértil nestes exemplos. Só os fanáticos, cegos por interesses misteriosos, ideológicos ou outros, e por uma visão do mundo mais que vesga, conseguem elogiar estes ditadores que pensam ser os donos da Verdade. Mugabe, doa a quem doer, foi um revolucionário falhado. Não soube construir um país próspero.
Mandou matar milhares de opositores pelas armas, arruinou um país rico, matou à fome milhares de pessoas boas e merecedoras de melhor sorte.
Mugabe teve tudo para ser um herói, mas acabou como um assassino corrupto. Perdeu a dignidade, embora os seus companheiros de armas queiram evitar-lhe essa humilhação.
Haverá sempre lacaios que o adorem, como adoram e defendem todos os donos do poder, embora a realidade seja um sofrimento generalizado dos mais humildes. Que estranho vírus lhes impede a visão da miséria mais cruel e da falta de liberdade democrática mais que evidente?
WAMPHULA FAX – 04.12.2017