Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
O julgamento processa-se na comunicação social com uma imprensa ávida por vender papel. Extraído da série “Rainha do Sul.”
A chantagem de alguns doadores não derrubou a nossa resistência nem fez desaparecer a nossa soberania. Mais uma vez tivemos a coragem de demonstrar ao mundo que somos capazes de resistir a qualquer intempérie, seja ele humano ou natural. A Frelimo ensinou-nos, no decurso da Luta de Libertação Nacional, a caminharmos juntos em busca de um objectivo colectivo e concreto: a independência de Moçambique.
A edificação deste país custou sangue e suor, por isso, esfuziante, o povo cantou e ainda canta: Tiyende pamodzi ndi mtima umodzi (avancemos juntos com o mesmo coração; trata-se, na verdade, da Unidade Nacional e o engajamento do povo no objectivo comum). Portanto, a nossa liberdade não tem preço. O único preço da nossa liberdade é a própria liberdade.
Compreendo o alarido que se levantou em relação ao que algumas pessoas chamam de “dívidas ilegais ou ocultas”, porque, por um lado, não depreendem que a defesa e segurança de um país de recursos naturais absolutos exige discrição e, por outro, esquecem-se de que a Unidade Nacional não é um fim e sim um processo inacabado, um desafio permanente e ambicioso. As “dívidas ilegais” só são “ilegais”, porque o contexto em que o país vivia, ante os ataques dos homens armados da Renamo, exigia total descrição. Há ainda que ter em atenção, em todo este contexto, que a Assembleia da República não é homogénea (hosana nas alturas) para que o assunto das dívidas fosse debatido num ambiente de total confiança política. Seria o mesmo que “entregar o ouro ao bandido.”
Como diria o senador brasileiro, José Maranhão, na política, como na vida fisiológica, quando se tem um tumor, um quisto, não há solução sem sangue. Em outras palavras, as “dívidas ilegais” foram essenciais para dissuadir acções negativas que se fermentavam contra o Estado moçambicano. Em face dessas informações, o Estado teve que armar-se por terra, mar e ar.
Se alguns leitores me perguntasse: “houve ou não alguma transgressão (na qualidade de Moçambique ser um aluno das instituições financeiras) na contracção das 'dívidas ilegais'? Eu diria que sim, houve, mas foi por um bem maior. Evitamos o mal. Um bom dirigente toma decisões, sejam elas boas ou más, não espera que o furúnculo amadureça. Não se deve tomar decisões para agradar o “professor.” Digo melhor, Guebuza salvou o país, mas criou inimigos internos e externos. Tenho que concordar com Professor José Mattoso quando diz que “O que fica para a História não é o fortuito; são as decisões, é o que acontece.”
Aprendi durante a minha peregrinação académica que há duas maneiras para mudar ou alterar o mundo: a liberdade e a igualdade. Mas também há uma terceira, menos valorizada por alguns doadores, que é a segurança. É bom que isto fique claro, “uma característica essencial dos nossos dias é que a imprevisibilidade tem sido e continua a ser uma realidade” no mundo das Relações Internacionais. Vence quem estiver melhor preparado e antecipa os perigos. O governo da Frelimo nunca transmitiu medo ao seu povo, porque soube ler o futuro e antecipar-se dos vendavais da História. Como diria Truman Capote “Inútil colocar trancas nas janelas quando o medo já invadiu os corações.”
As peripécias que ocorrem na Mocímboa da Praia só acontecem porque foram descontinuadas acções concretas que visavam a garantia plena da defesa e segurança da nossa Pátria Amada. Os panegiristas do Ocidente, que fazem coro as lamúrias de alguns doadores chantagistas, sabem bem que a existência de recursos naturais de elevado valor mercantil atrai muitos malefícios. Desarmar o exército significa tornar Moçambique permeável (maleável) ao crime transnacional, uma fotocópia do que é hoje a RDC, Somália, etc. Definitivamente, “a segurança é condição sine qua non para que possa haver desenvolvimento económico.”
É aceitável que os doadores exijam esclarecimentos exaustivos sobre os contornos das “dívidas ilegais”, o que não devem fazer é chantagem emocional, financeira, etc., etc., etc. Moçambique já não está na jaula do imperialismo. Nem devem, como alguns doadores o fazem, interferir no funcionamento do Estado moçambicano. Por exemplo, eles interferem na justiça moçambicana, exigindo a prisão dos nossos líderes históricos. Nenhum líder deste país será preso por defender o seu povo.
Neste capítulo julgo que tem estado bem o governo em não aceitar qualquer tipo de chantagem. Nós somos um Estado soberano, independentemente das nossas dificuldades financeiras, não devemos aceitar que nos façam de matraquilhos. Os nossos líderes são nossas tochas, não são objectos de chantagem. Os nossos líderes são nossas bússolas, não são instrumentos de diversão. Os nossos líderes são a nossa identidade, devemo-los o que somos hoje. Eles lutaram pela libertação do Homem e da terra. Os que mereciam estar presos são aqueles que, movidos pelos interesses económicos, invadiram o Iraque, a Líbia, destruíram a Síria, etc., etc., etc.
Espero que, para acabar com a “dependência”, os moçambicanos trabalhem mais, apliquem-se mais, esforcem-se mais, imitem mais no que puderem os que já chegaram a patamares mais elevados. Larguem o choro e os copos.
Zicomo e um abraço nhúngue aos amigos Folege e Cau.
WAMPHULA FAX – 11.12.2017