A Serra d'Arga, em Portugal, e o Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, estão no centro de um protocolo científico internacional assinado hoje, em Paris, entre as universidades de Coimbra, Quioto, Oxford e Sorbonne-Nouvelle.
O protocolo junta as quatro instituições em torno da "lusofonia e biodiversidade", nomeadamente, a partir do estudo dos equídeos e dos primatas nos países de língua portuguesa na Serra d'Arga, em Portugal, e no Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique.
O acordo de cooperação científica foi rubricado no primeiro Congresso da Francofonia e da Lusofonia, que começou hoje e decorre até sexta-feira, em Paris, e que é organizado por Isabelle de Oliveira, directora do departamento de Línguas Estrangeiras Aplicadas da Universidade Sorbonne-Paris 3.
"O programa geral é 'lusofonia e biodiversidade' e depois temos um programa sobre os equídeos e um programa sobre os primatas. É original pelo facto de ser um programa transversal e interdisciplinar à volta dos países de língua portuguesa e à volta da biodiversidade", explicou à Lusa um dos investigadores da rede, Carlos Pereira.
O especialista nas interacções entre o Homem e o Cavalo, através da equitação de tradição portuguesa e as artes equestres, explicou que o projecto tem como pontos de referência o Instituto do Cavalo e da Equitação Portuguesa que dirige em Paris, uma estação de observação de garranos na Serra d'Arga, em Portugal, o Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique e o Primate Research Institute, em Quioto, no Japão.
Durante a apresentação do projecto, num dos edifícios da UNESCO, em Paris, o presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, defendeu que quer fazer da sua cidade "um território de ciência".
"Vamos apoiar este centro do conhecimento do cavalo do ponto de vista logístico e do ponto de vista do enquadramento da própria comunidade escolar, criando as condições logísticas para que este projecto se possa desenvolver, sendo Viana quase como um laboratório vivo deste projecto", disse o autarca à Lusa.
José Maria Costa acrescentou que o centro de observação vai ficar na freguesia de Montaria, no concelho de Viana do Castelo, e que o projecto vai permitir desenvolver "uma fileira de turismo científico" e promover a ciência junto das comunidades escolares locais.
Maria Fernanda Rollo, secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, considerou que Viana do Castelo é o "epicentro" para os investigadores que estudam a comunidade dos garranos e destacou que em Portugal se faz "uma ciência de reconhecimento internacional".
"São também investigadores portugueses que estão nestes contextos [internacionais] onde se afirmaram pela sua capacidade, pela sua criatividade e sobretudo pela sua produção científica. Isso suscitou o interesse das próprias universidades estrangeiras em se associarem a esse projecto", declarou à Lusa.
A investigadora Renata Mendonça, da Universidade de Coimbra, está a observar o comportamento dos garranos, em Viana do Castelo, desde 2016 e destacou que a rede permite "colaborar com as melhores instituições dessa área".
Também Helena Freitas, coordenadora do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, sublinhou que o projecto envolve "uma rede de competências e saberes" que podem ser projectados no espaço da lusofonia, nomeadamente criando "mais pontos com Moçambique, com a Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola".
Susana Carvalho, directora-adjunta de Primatologia e Paleontologia no Parque da Gorongosa e professora na Universidade de Oxford, espera que a rede científica permita a expansão da "investigação que está a decorrer nos países de língua portuguesa, com especial ênfase em África e no Brasil".
"No Parque Nacional da Gorongosa estamos a desenvolver um projecto de longa duração na área da evolução humana e da primatologia. A Gorongosa é um dos locais com maior biodiversidade no mundo e, portanto, é um perfeito bastião para usarmos como exemplo e para desenvolvermos projectos de investigação", afirmou.
Lusa – 06.12.2017