XICARA DE CAFÉ por Salvador Raimundo
A BRONCA da dívida oculta volta à ribalta, desta feita – coisa rara nos últimos tempos – pela voz de Filipe Nyusi, na qualidade de chefe do executivo.
Para quem pensava que o presidente trazia na manga alguma coisa de novo nesta problemática, dane-se redondamente, porque o chefe de Estado limita-se a repetir o que há muito se tem andado a dizer em público: estamos a trabalhar arduamente para o esclarecimento, em definitivo, do assunto.
E para não variar, fê-lo aos diplomatas acreditados em Moçambique, os que mais barulho, incómodo, têm proporcionado ao executivo liderado pelo engenheiro.
Também para não variar, o engenheiro Filipe não aponta datas, semanas, meses nem anos para o tal esclarecimento, limitando-se a dizer... “rapidamente”.
Vago, muito vago, porque “rapidamente” para uns pode ser entendido como período de uma semana, como pode ser por meses ou anos.
Seria óptimo, pois, que houvesse um compromisso em termos de prazos por cumprir e os mesmos fossem rigorosamente respeitados integralmente.
Nada disso foi feito e nem há certeza de que algum dia tal venha a acontecer. Até prova em contrário.
Se calhar mais do que a comunidade internacional, os moçambicanos precisam conhecer, em primeiríssimo plano, o que o engenheiro Filipe anda a fazer com a sua malta nesta questão da dívida oculta, até porque há pouco mais de três anos, o engenheiro deu garantias plenas de que o novo presidente da República tem como patrão o povo moçambicano.
Pois então, caramba, que seja esse mesmo povo, seu patrão, a ter detalhes de tudo que está sendo feito para o pleno esclarecimento em torno da dívida escondida debaixo do tapete.
Percebe-se, entretanto, a trapalhice do engenheiro. O Fundo Monetário Internacional e os credores internacionais são mais pressionantes que o pobre do Zé Povão.
Este, o Zé Povão, não passa de um Yes Man, sem nenhum poder de decisão, incluindo, inclusive, no momento de depositar o voto em processos eleitorais.
Até nesse instante o Povão é incapaz de fazer as escolhas certas de modo a evitar ser espezinhado por um punhado de barriga-cheia.
Por isso, convém, se calhar, que a pressão venha de fora pois desse modo a malta do engenheiro respeite.
Mas que pressão. O Fundo não mete cá dentro o dinheirinho de que o engenheiro tanto necessita para se impor, através dos seus programas de governação.
O Zé Povão é capaz de protestar contra a carestia da vida.
Adicionalmente, o Zé Povão, que devia exigir a cabeça dos responsáveis pelo descalabro dos cofres públicos, continua sem nada fazer. Por isso, nada nos garante que alguém venha a ser responsabilizado, criminalmente, na sequência da dívida maluca.
Estamos tramados!
EXPRESSO – 24.01.2018