FOI DESASTROSO
Passados 17 dias após o término do ano 2017, o Jornal Txopela divulga a percepção pública sobre a prestação do Governo da Zambézia.
O entendimento, unânime, é de que o ano transacto foi péssimo em todas as vertentes, as reacções são discordantes no campo político, conquanto os nossos entrevistados culpam o Governo da Zambézia por não ter sabido reagir, prontamente ,e frente a diversos eventos que tiveram lugar na província.
O Jornal Txopela também buscou as reacções daqueles que acompanham,
O executivo de Abdul Razak foi infeliz
Gil Namelo, jornalista e activista social considera que o ano em análise foi um fracasso no capítulo económico, o encerramento de diversas empresas foi o termómetro mais sério para avaliar a situação caótica em que a província esteve relegada “o próprio governo já admitiu este facto publicamente, de que foi um ano muito difícil mas entendo que está situação económica na província foi reacção dos eventos passados, o conflito armado que travou a circulação de pessoas e bens, por um longo período, e a retirada do apoio dos parceiros moçambicanos foi decisivo para estarmos mergulhados nesta situação”.
O jornalista, que foi a principal voz das denúncias e investigações de casos de corrupção envolvendo altos funcionários do Estado ao nível da Província em 2017, refere que no domínio político houveram casos ofensivos, “o executivo de Abdul Razak foi infeliz. Mesmo estando numa situação financeira assombrosa foi o único Governo Provincial ao nível do País onde verificou-se muita corrupção, desvio de aplicação de fundos, o uso e abuso de poderes”. Namelo lembra com dissabor as detenções e investigações de grandes personalidades da província ligadas a casos de corrupção e uso indevido do dinheiro público. “A avaliação não pode ser positiva, um governo que se preza, uma gestão apropriada em prol do povo, não se pode registar este tipo de eventos onde uns lutam para fazer crescer e outros estão preocupados com interesses umbilicais”. O activista refere que houve fraca implementação do Plano Económico-Social da Zambézia, embora o esforço pessoal do Governador Abdul Razak. “Houve um esforço, é verdade. Construção de novas infra-estruturas, produção agrícola. Penso que é aqui onde Abdul Razak merece nota positiva ”. Conclui.
Chupa sangue pode levar-nos ao extremismo absoluto
O pesquisador Jeremias Messias olha 2017 com mancha e agastamento, condena com veemência a forma como o Governo geriu a situação “chupa sangue” na Zambézia, principalmente, no distrito nortenho de Gilé, onde as manifestações populares traduziram-se em mortes e evasão a cadeia distrital da PRM.
“A actuação do governo ao nível da comunicação não foi muito boa, ouvi as narrativas do médico-chefe provincial, do governador e do presidente da república onde diziam que o chupa-sangue era uma desinformação, disseram também que os fomentadores eram pessoas ignorantes que provocavam agitação social na própria comunidade, eu penso que esta forma de explicação não é racional, tinha de ser mais cuidadosa ”.
É que para o pesquisador e consultor para área de saúde era necessária uma estratégia mais apurada. Ressalta que, o fenómeno ao nível da província não é recente, remota dos anos 1949 e o facto da Zambézia ser uma das províncias mais populosas e a persistência do mito ao longo dos anos deve ser tomada como um indicador sério de que algo não está bem e encontrar-se uma solução rápida e duradoira. O académico Jeremias Messias adverte que “se a comunicação é: existe ou não existe? estamos perante um problema que amanhã pode levar-nos ao extremismo, de geração para geração as características da violência podem variar, o próprio discurso hegemónico e contra hegemónico pode criar um extremismo absoluto”. Alerta.
O nosso entrevistado advoga que é urgente um estudo profundo com vista a aferir o real problema, de igual modo aconselha ao Governo a mudar de discurso.
Estudos publicados por diversos académicos explicam que as manifestações do “chupa sangue” são uma forma de demonstração de descontentamento da população frente aos problemas reais como a pobreza, fome e necessidades básicas, “as pessoas não conseguem satisfazer as suas necessidades, recorrem ao surto de chupa sangue como uma queixa para que tenham atenção do próprio Governo, mas este ano a província da Zambézia não registou casos de fome, é interessante, porque o surto veio e persistiu, houveram mortes e violências em quase toda a província, e isso não teve nenhuma relação directa com o descontentamento ou fome”.
Abdul Razak: Um Governador gabinetista e de agendas
Para além da corrupção e relativa apatia do chefe do executivo provincial em aspectos importantes da província, os nossos entrevistados criticam a falta de inclusão da sociedade civil, principalmente, na implementação de diversos projectos. Referem que Abdul Razak e os membros do seu Governo acantonaram-se e não dialogaram com as forças vivas da sociedade, quando o fizeram não foi de forma séria e com vista a buscar soluções factíveis. A problemática da exploração de recursos minerais na província é mencionada como sendo uma das questões que fragiliza o governador, que em momentos de tensão, não soube gerir de forma a beneficiar as populações nas zonas de implementação e exploração bem como buscar consensos entre as empresas e as comunidades. Abdul Razak é descrito como sendo um governador gabinetista e ausente dos reais problemas da população da província da Zambézia.
Jornal Txopela - 17.01.2018