Por Edwin Hounnou
A autarquia de Nampula está em efervescênca política, numa corrida frenética de eleição intercalar para encontrar um novo edil que venha substituir o finado Mahamudo Amurane, vítima de assassinato a 04 de Outubro passado, que até ao presente momento, ainda não foi esclarecido pelas autoridades competentes. A luta pelo apetecível cadeirão deedil de Nampula é enorme e os políticos, na corrida, fazem uso de todas as artimanhas ao seu alcance, desde o piscar de olho até a promessas irrealizáveis.
Os novos e antigos políticos estão posicionados na pista de corrida, munidos de pistolas que, apenas, vomitam mentiras e inverdades à mistura tentam enganar o munícipe de Nampula que já tinha começado a ver a luz, depois de décadas de desgovernação a que haviam sido submetidos por um regime totalitário, incompetente e boçal.
A falsificação de cadernos eleitorais, como foi sobejamente denunciado, faz parte da grande estratégia de vencer os pleitos eleitorais que o partido governamental tem se socorrido, de forma continuada, para continuar no poder. Os órgãos eleitorais, a polícia e o sistema judicial têm funcionado como verdadeiros tentáculos de um polvo que se defende perante um eminente perigo. O medo de perder o poder é de tal sorte tão assustador que a própria "secreta" tem sido, frequentemente, chamada para dar o seu “apoio fraternal” na repressão da oposição.
Em países e sociedades civilizados, os órgãos eleitorais são para conduzir as eleitorais de maneira transparente e imparcial. Não fazem parte da disputa, porém, entre nós, as eleições são uma fonte inesgotável de disputas que terminam em conflitos armados. A polícia e os tribunais são órgãos do Estado e não devem estar ao serviço do grupo que detém o poder mas da sociedade.
Quando o partido no poder se socorre dos tribunais, órgãos eleitorais e da força policial para justificar a sua permanência como governo, tal como acontece, de modo recorrente, em Moçambique, a sociedade é forçada a concluir de que o leme dos destinos do seu país foi tomado por uma perigosa quadrilha de assaltantes.
Depois do vendaval político que se viveu em Nampula, com instigações em toda a linha, desde a importação de marionetes dos distritos para demonstrarem o aparente “rancor” que transportavam na alma, esperava-se que uns fossem recebidos à paulada enquanto passeariam sobre o tapete vermelho estendido como salvadores da pátria. O povo não é nenhum burro e de burro não tem nada para se deixar levar na mentira e calúnia.
As aglomerações em torno dos candidatos verificadas no dia de arranque da campanha eleitoral dizem por si por quem o povo dobra o joelho. Os munícipes de Nampula dizem que não querem voltar a ver a sua urbe pejada de lixo nem ruas esburacadas. Querem mercados limpos, organizados e ruas abertas para viaturas possam circular e a ambulância possa chegar até à porta do doente. Os Nampulenses querem o desenvolvimento socioeconómico que desertou ha muito tempo.
A importância estratégica que a cidade de Nampula representa, de facto, tira sono a quem nunca pensou em alternância política na governação de uma povoação, vila, cidade e do país inteiro. Nampula tira sono mesmo quem sempre se julgou, que está destinado por Deus a governar os outros para todo o sempre. Quem tem Nampula nas suas mãos, tem todo o Norte sob os seus pés. É a metrópole de Cabo Delgado, terra de imensos recursos naturais, e do Niassa, com minerais não explorados e de agricultura adormecida, por isso, alguns têm muito sono e querem o poder a qualquer preço para expandirem o seu império económico, o seu domínio social.
As lágrimas que alguns políticos derramam, perante a viúva do antigo edil da autarquia de Nampula, são tão nojentas quanto falsas porque o governo deveria envidar esforços para que o episódio do assassinato seja esclarecido e não limitar-se a apresentar “profundos sentimentos de pesar” que não levam a nada. O esclarecimento cabal do assassinato de Mahamudo Amurane depende, só e somente só, da vontade política e não de meios ou técnicas de investigação nem de evidências para seguir a pista dos executores e dos mandantes. Depende de quem tem o poder que é para isso que tem o poder.
Os assassinatos sem rosto andam à solta e são incontáveis. Moçambique parece ser dos raros países onde ocorre assassinatos e nada acontece aos seus autores. Quem matou ou mandou matar António Siba-Siba Macuácua, Carlos Cardos, Gilles Cistac, Paulo Dangerman, Paulo Machava? Alguém, de entre esses que desfilam em casa de Amurane, foi oferecer uma chávena de chá, dar um abraço aos órfãos e viúvas. Alguém já levantou a voz contra os assassinatos em massa que acontecem em Sofala e Manica, na limpeza à oposição? Alguém já denunciou existência de valas comuns que os esquadrões da morte espalham pelo país fora? Há muito fingimento e mentira pelo meio.
A ideia de ir pedir apoio à viúva de Amurane, politicamente, é repugnante. O candidato do partido Frelimo deveria ir ter com a viúva anunciar que os assassinos do seu marido já estão presos, vão ser, criminalmente, responsabilizados e não limitar-se a pedir votos e enchê-la de falsas promessas que, à partida, se sabe que constituem mais um monte de mentiras como tantas outras.
O candidato da Frelimo não tem culpa pelos desvarios da viúva de Amurane. A culpa recai, na sua totalidade, na senhora pela grande falta de discernimento que tem estado a revelar e isso tem vindo a provocar fissuras no clã Amurane. Em nome dos familiares Amurane já apareceu um dos irmãos do finado não só a distanciar-se dela mas também a repudia-la.
A táctica de morder para depois soprar é própria de ratos e não de pessoas normais. Um fio de lágrimas no canto do olho não governa o país nem trazem felicidade ao povo. Levantar fantasmas não é nem pode ser a maneira de governar um povo que precisa de um governo profundamente convencido das suas obrigações e firme na sua acção de bem servir. Uma eleição ganha-se quando o candidato ou o partido apresentar um manifesto que representa a esperança e não a força musculada da polícia e truques dos órgãos eleitorais.