Ou o triunfo de Escola Diplomática Nwachicoloanense? Foi com um misto de "aparente surpresa" e alegria que recebi a partir de Lisboa a noticia da possível nomeação de Joaquim Bule para o cargo de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Moçambique em Portugal, que ontem se confirmou! "Aparente Surpresa", porque o mano Bule, meu colega de quarto e de turma no ISRI e um jovem discreto e reservado, casado com a mana Mimi, Veterinária de profissão e que desde os bancos da escola mostrou a sua inclinação para a "burocracia estatal e institucional, um servidor de estado nato, um funcionário publico par excellence".
Já no terceiro ano, quando algumas instituições não governamentais ofereciam aos então bacharéis Isrianos nada mais e nada menos que $1000 dólares mensais, mano Bule recusava-se a receber tal dadiva e preferia um modesto emprego no Ministério do Interior onde ganhava menos de $200 alegadamente porque "nas ONG' s não havia reforma! " Questionava-me na altura como e que um jovem de 18 a 20 anos pode estar preocupado com a reforma! Resposta que me foi dada com esta nomeação, 20 anos mais tarde! Esta "recusa" para um jovem que fazia parte do trio de Nwachicoloane (uma escola secundaria e pre-universitária em Gaza, famosa pela falta de condições básicas, pobreza alimentar e rigidez disciplinar de seus gestores) de que faziam parte o Celso Mabunda, Dionisio da Encarnação Macule e Joaquim Bule aumentou sobremaneira o meu "respeito" por este jovem. No ministério do Interior foi combatido por vários "insiders" por se tratar de um forasteiro civil e portanto "não da família da policia"!
Com uma paciência de chinês, Bule aguentou as investidas dos "insiders". Teve a protecção do então super Ministro do Interior e da Segurança na Presidência da Republica, o piloto aviador Almerino Manhendge, que ao subir ao poleiro do Interior na era de Chissano, (ele também outsider em assuntos policiais) encontrou no sector um seu ex-estudante que dominava os dossiers tendo o projectado a chefe da então secção de relações internacionais e depois a Chefe do mesmo sector mas já elevado a departamento de relações internacionais. Teve o seu apogeu na era Pacheco, quando o actual "Chefe da Diplomacia Moçambicana" José Pacheco, foi nomeado Ministro do Interior, transformando-se no seu braço direito, o que explica em parte a sua nomeação para o "creme do creme" dos postos da diplomacia bilateral moçambicana -Lisboa! Bule trabalhou com Correia, actual Secretario Geral da Assembleia da Republica, seu mentor em assuntos policiais, quando este zambeziano de postura singela, trabalhava na Policia de Investigação Criminal (PIC) acumulara com o posto de representante de Moçambique na Interpol e com ele, o jovem Bule aprendeu "os truques da sobrevivência em ambiente hostil".
Foi durante vários anos representante de Moçambique no SARPCCO ( a organização das policias da região austral de África) onde não em raras ocasiões nos encontrávamos em varias capitais da região e não só: ele a representar Moçambique e eu a representar a Amnistia Internacional. Apesar de estarmos, não raras vezes em posições opostas, reconheço a sua competência profissional e é importante registar que a nossa amizade nunca foi posta em causa pelas posições, pelo que passei a respeita-lo ainda mais porque ambos sabíamos defender os interesses nacionais de Moçambique sem ferir os pactos internacionais.
Em Nova York e em outras capitais diplomáticas, cruzamos varias vezes e uma vez mais em posições opostas: ele a representar o governo de Moçambique e fazendo parte ora do Grupo Africano ora dos Palops, ora da SADC e eu representando ora a Comissão de Relações Internacionais da Assembleia da Republica de que fui Vice-Presidente, ora o Forum Parlamentar sobre Armas Ligeiras, com sede em Estocolmo, de que fui Vice-Presidente ora o Parliamentarians for Global Dialogue com sede em Nova York. Uma vez mais Bule com a sua "humildade Nwachicoloana" sabia fazer a ponte entre as "posições duras" dos governos africanos e os "lobbies" dos parlamentares e organizações da sociedade civil que queriam transparência na gestão dos dossiers sobre a "produção, comercio e transparência das armas de pequeno porte" que culminou com a assinatura do Pacto das Nações Unidas sobre o Comercio, e Transferência de Armas Pequenas e Ligeiras" que Bule domina com mestria.
Portanto fica aqui o meu testemunho sobre a competência técnica na gestão diplomática de dossiers politico-policiais e militares deste jovem que marca uma geração ao ser o primeiro da minha turma a cortar a meta diplomática!.
De referir que o outro "primeiro", da minha turma, foi Eduardo Júlio Sitoe,, que primeiro cortou a meta académica ao receber o seu PhD (Doutoramento em Ciências Politicas) pela Essex University, em Colchester, UK. O único senão desta nomeação que saúdo, e a fraqueza sobre assuntos económicos do novo embaixador e o "infeliz" reforço da ideia que reina nos corredores diplomáticos de que o sector securocrata domina os postos diplomáticos de Moçambique em Lilongwe, Nairobi, Moscovo, Washington e Lisboa, uma herança do período da guerra fria e da guerra civil!
Com a crise económica que Moçambique enfrenta, não seria altura de começar a pensar na mudança do paradigma securocrata para um de diplomacia económica? Joaquim Bule tem a sua tarefa facilitada porque encontra em Lisboa seu leal conterrâneo e ex-colega Nwachicoloanense (da 7a classe até à Licenciatura), Dionísio da Encarnação Macule e a competentíssima dupla Consular Geraldo Saranga/Celso Gusse!
Bem haja Joaquim Casimiro Bule! Bem haja a diplomacia moçambicana!
Parabéns Presidente Nyussi! Continue a apostar na juventude e na nomeação de pessoas com competência técnica! O único senão, depois da nomeação de Higino de Marrule para a Agricultura e Segurança Alimentar, de Manuela Lucas para o posto de Vice-Ministra dos Negócios Estrangeiros foi a exoneração de Jorge Ferrão do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano!
Já agora senhor Presidente há certos governadores que precisam de férias!
Manuel Araújo
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