NO início da semana que corre, os comandos gerais da polícia de Moçambique e da Tanzânia assinaram memorando de entendimento tendo como pano de fundo, essencialmente, o combate conjunto ao terrorismo.
Existe uma teoria que aponta como porta de entrada de grupos armados que andam a aterrorizar alguns distritos de Cabo Delgado, e a vizinha Tanzânia. Fechar parêntesis.
Isto numa altura em que as autoridades policiais de Moçambique são incapazes de travar a clara evolução, no terreno, de homens armados responsáveis pelo pânico criado nalguns distritos da província de Cabo Delgado, passam três meses.
Só para constar, esta semana foram reportados outros casos de ataques armados e raptos em postos administrativos do distrito de Palma, onde teriam perdido a vida cinco pessoas e outras tantas feridas.
Os raptados são jovens pescadores, de acordo com relatos provenientes de Cabo Delgado, o que, desde logo, sugere que as vítimas, por estas alturas, estariam a receber treinamento algures para posterior integração em acções terroristas.
Há dias, a polícia veio a público dizer conhecer a génese do grupo que anda a aterrorizar pelos lados do norte de Moçambique sem, no entanto, avançar detalhes, escondendo-se na tradicional necessidade de preservar as investigações.
Em Outubro do ano passado, precisamente no assinalar de mais um aniversário do Acordo Geral de Paz, três dezenas de indivíduos, munidos de armas de fogo e de catanas em punho, invadiram a sede distrital de Mocímboa da Praia, especificamente as esquadras de polícia e o comando distrital, assumindo o controlo total e completo do local por algumas horas, até serem expulsos atravez do envolvimento de reforços policiais.
Na altura, Afonso Dhlakama defendia que o grupo provinha de dentro da Frelimo, particularmente de indivíduos de nomeada com a intenção de desestabilização, mas também com o intuito de desvalorizar os esforços em curso visando paz efectiva e duradoura em Moçambique, por si e Nyusi levados a cabo.
Dhlakama não acrescentou absolutamente nada na versão quase generalizada segundo a qual, o grupo de ataques à Mocímboa da Praia pertencia a célula terrorista Al-Shaabab, com sede na Somália.
As várias detenções não levaram, todavia, a nenhum esclarecimento sobre a verdadeira origem e intenção do grupo que tem estado a resistir a todas as tentativas levadas a cabo pelas autoridades, visando o seu imediato aniquilamento.
Isto incluíndo a oferta avançada pelo próprio Bernardino Rafael, comandante geral da Polícia, a partir da vila-sede de Mocímboa da Praia, no sentido de os integrantes do referido grupo se entregarem às autoridades, munidos de respectivas armas de fogo e/
/ou instrumentos contundentes a troco de amnistia.
Pelo meio, a ameaça de, findo o prazo de uma semana de validade da oferta, a Polícia faria caça ao homem, sem apelo nem agravo.
Só que ninguém se mostrou às autoridades naquele período. Antes pelo contrário, as acções terroristas não só se alastraram, como intensificaram.
Numa assentada, foram mortos quatro policiais que se encontravam na boleia de uma viatura, em missão de patrulhamento.
Hoje, o grupo terrorista – que nunca se dignou a dar a cara – anda a recrutar novos elementos para as suas fileiras, através do uso da força, dando a nítida ideia de que veio para ficar e que nos próximos tempos, as suas acções não só serão mais intensas, como eventualmente serão expandidas para mais distritos de Cabo Delgado e, se calhar, para as províncias vizinhas, nomeadamente, Niassa e Nampula.
O modus operandI do grupo nos faz lembrar os primeiros momentos do surgimento público da Renamo.
Isto incluindo a tradicional marca de ataque-retirada, típico estilo de guerra de guerrilha.
Na época, muitos não davam importância aos homens armados que actuavam mais nas províncias do centro de Moçambique, chegando, o próprio poder político, a classificar tais indivíduos de “bandidos armados” a serem aniquilados a breve trecho.
O certo é que os tais “bandidos armados” rapidamente ganharam confiança à medida que recrutavam mais elementos para as suas fileiras até que, em 1992, o governo e a Renamo rubricaram o famoso acordo geral de paz, em Roma, Itália, no seguimento de negociações que, afinal, iniciaram ainda na década de 80.
Cá para os nossos botões, urge que se leve muito a sério o grupo de indivíduos que pelos lados de Cabo Delgado anda a realizar ataques armados e a recrutar jovens, claramente para posterior integração de suas fileiras.
Se o grupo declinou oferta de amnistia, aliado à resistência que tem evidenciado no terreno, nos leva a crer estar-se diante de uma forte organização muito bem dirigida e com objectivos claros a atingir.
Mais, o mesmo grupo deve ter sido criado com muita cautela, ponderadas todas as situações e só aparecendo quando, efectivamente, a sua liderança teve a certeza de que nada iria falhar em termos de estratégia.
Por tudo isso, se calhar não bastem apenas os apelos à desintegração mediante amnistia e à recente aliança com a polícia congénere da Tanzânia.
Neste momento, todos os esforços são necessários, sob o risco de se reeditar a… Renamo.
EXPRESSO – 17.01.2018