Moçambique - Carta ao Presidente da República
Por Laurindos Macuácua
Bom dia, Presidente.
O povo sul-africano, provavelmente a maioria, deve estar a soltar foguetes. Terminou, esta quarta-feira, o reinado de Jacob Zuma. Foi empurrado pelo seu próprio partido, o ANC.
Seja como for, gosto de ser cauteloso na abordagem destes temas. É que julgo que os problemas da África do Sul não terminam com o descarrilamento de Zuma. São estruturais. E felizes são os que acham que o paraíso chegou.
Agora, se quisermos ser honestos, Zuma, definitivamente, tinha que abandonar o poder. E peca pela demora. Estava chamuscado. Não inspirava nada. Enfim, sai pela porta pequena, como o seu amigo Robert Mugabe!
Em todo caso, para se chegar a este extremo, é preciso coragem. Fibra e, acima de tudo, acreditar que o mundo ou uma certa nação pode ser melhor. Há gente que definitivamente precisa de ser expurgada.
E por falar nisso: que é feito de Armando Guebuza e seus apaniguados?
Muito provavelmente, ao nível da região não se encontra outro partido como a Frelimo.
Partido que acoberta gatunos, que prefere que o povo que dirige vá à merda enquanto eles - os camaradas - vivem uma vida nababesca. E se assim é, em bom rigor, todo o partido está podre. Todos são ladrões. São cúmplices no escangalhamento do País.
E isto, enquanto não houver coragem política para desencadear um autêntico terramoto que leve de enxurrada os ladrões, os beija-mãos, os aduladores, os chupa-sangue, nunca vai mudar. Não se advinha um futuro risonho para Moçambique, pelo menos a breve trecho. Todas as promessas governamentais são para boi dormir, é treta.
E é preciso ter tanta lata para imbecilizar mais o já imbecilizado povo moçambicano.
O estado a que chegou a incompetência do Governo, a inconcebível falta de foco do Executivo e o peso horroroso de uma dívida sufocante, é de fazer medo. Quer dizer, para um ladrão ser bem-sucedido na sua carreira, obrigatoriamente tem que se esconder no partido Frelimo. Estão lá os mestres. Ali acobertam todos: tratantes, lesa-pátrias, os que enganam o povo, chamando-o de patrão… a lista é grande e não cabe nesta carta que lhe endereço, Presidente.
Ou seja, na eventualidade (ou já é um dado adquirido) de o Presidente ganhar a próxima corrida eleitoral, ocupar-me-ia, durante todo o mandato, a elencar os podres do partido governamental e mesmo assim não chegaríamos ao cume.
E tudo, particularmente a mim, Laurindos Macuácua, aborrece-me porque em si, Presidente, depositei tanta esperança. E o senhor soube, naquele dia da sua tomada de posse, construir uma narrativa capaz de tirar do mar qualquer peixe. Fui um dos pescados.
Fomos enganados. Era demagogia. Afinal, era mais um que se seguia na perpetuação do pântano. Era mais um fariseu!
Como é que um Presidente pode falar de realizações, blá, blá, enquanto todo o seu mandato está manchado pelo espectro da maior roubalheira de dinheiro público já ocorrida na história de Moçambique?
E tudo isto reforça a tese de que o dinheiro que irriga as arcas da Frelimo e seus sequazes flui dentro dessa teia diabólica de corrupção inaudita. Aliás, o que explica muito sobre a supostas fortunas e vida nababesca de supostos ricaços ligados ao partidão.
E já lhe disse certa vez, Presidente. E não me importo de repetir: eu não estou a satanizar a riqueza. O que não se pode concordar é que fortunas sejam feitas à sorrelfa e turbinadas com dinheiro público, sobretudo num País esfacelado e carente e que não tem nada que dê orgulho.
Quer dizer, a Frelimo quer mesmo que o processo sobre as dívidas ocultas morra de morte matada?
A roubalheira das elites neste País é deplorável e, portanto, é justa a indignação da maioria dos moçambicanos.
E já agora, Presidente: onde é que o seu filho Florindo arranja dinheiro para o périplo pelo mundo que exibe nas redes sociais? Onde é que ele trabalha e há quanto tempo? Receio que enquanto nos obrigam a apertar o cinto, destapam os cofres do Estado só para os eleitos.
Diário de Notícias – 16.02.2018