Por Edwin Hounnou
Tomei a liberdade de continuar com a ideia lançada, na noite do Domingo, 11 de fevereiro de 2018, por Tomás Vieira Mário, analista político do programa Pontos de Vista, da STV. Ele deu uma réstia sobre a proliferação de igrejas que, abusando da liberdade religiosa consagrada na Constituição da Republica, devastam famílias inteiras na sua desenfreada corrida de compra de milagres e de outras benesses tais como prosperar no negócio e obter um bom emprego de mão beijada e reportado por alguma televisão vocacionada na difusão de mentiras.
Essa pandemia ocorre em todo o território nacional, sob o olhar das instituições de direito do Estado. Já vimos importantes decisões governamentais a serem anunciadas em sinagogas, como se não houvesse lugares apropriados para este tipo de exercício administrativo. Nas capelas, igrejas, catedrais, mesquitas e sinagogas adoramos a Deus. Na Assembleia da República e no Palácio da Ponta Vermelha são lugares privilegiados para se fazerem leis e promulga-las ou fazer importantes comunicações ao país. As igrejas, mesquitas e sinagogas têm outras missões de Deus.
Se o nosso Estado fosse de Direito e Democrático, os actos político-administrativos anunciados nesses lugares deveriam ser, imediatamente, considerados nulos e de nenhum efeito legal. Vem escrito na Constituição da Republica que o nosso Estado é laico, o quer dizer que deve existir uma nítida linha de separação entre o Estado e as igrejas. Isso contradiz quando eminentes figuras do Estado fazem declarações políticas em sinagogas, sobretudo, em igrejas conotadas com o hipnotismo religioso que coagem os seus crentes a dispenderem elevadas somas de dinheiro a fim de comprarem milagres, água de Israel, água do Rio Jordão, sal santo e tantas outras crendices.
Não é preciso ser nenhum teólogo para entender que Deus ama e ajuda a todo o ser humano, seja ele rico ou pobre, possa ser assíduo dizimista ou irregular. As igrejas que assim procedem deveriam ser chamadas de igrejas do dinheiro e da burla porque agem contra o povo, empobrecendo-o cada vez mais. No passado, a Igreja Católica tinha o seu tribunal, a Santa Inquisição, para julgar e até matar os desalinhados e discordantes da sua doutrina, mas isso pertence às páginas negras da História. Os movimentos radicais de inspiração islâmicas também fazem das suas – matam em nome de Allah.
Nos dias que correm, assistimos a indivíduos ligados a essas igrejas milagreiras a venderem os seus imóveis, viaturas e outros bens na esperança de receber, de volta, em dobro ou muito mais. Vemos e ouvimos filhos a roubarem aos seus pais para oferecerem à sua igreja. Esposas roubam aos seus maridos e os maridos roubam às suas esposas para ficarem bem aos olhos do seu bom “Deus” cada vez mais exigente.
O Deus que nos ensinaram nas aulas de catequese não era tão sedento de dinheiro como o que vemos nos dias que correm que estende a sua mão a quem lhe oferece dinheiro. O tamanho do milagre é proporcional à quantidade do dinheiro ofertado.
Entre nós, a cantora famosa de EYUPHURO, Zena Bacar, falecida nos finais de 2017, que, nos seus últimos dias, dormia ao relento por ter “doado” a sua casa à IURD – Igreja Universal do Reino de Deus. Há muitas estórias arrepiantes que se contam sobre as peripécias mirabolantes dessas igrejas milagreiras que, dia após dia, jogam os seus seguidores para a lama da pobreza, retirando-lhes o pouco que têm.
Em alguns países, tanto africanos como europeus, as igrejas que roubam e empobrecem os seus crentes foram erradicadas, as suas sinagogas encerradas devido ao excesso de abuso de extorsão. Os governos desses países saíram em defesa dos seus povos. Nessas igrejas, como propaganda, aparecem, nas câmaras televisivas, pessoas relatando milagres realizados nas suas vidas devido à sua persistência ao dízimo, o que estimula a que pessoas roubem para se verem mergulhados em milagres. Para essas igrejas, o mais importante é o dízimo porque este estabelece a ponte entre o crente e Deus.
Quem puder proporcionar dízimo à igreja cada vez mais gordo e recheado tem a vida eterna alcançada. Tem a felicidade na terra garantida. Contrariamente aos crentes que chegam ao culto com os bolsos cheios de dízimo e regressam de mãos vazias, vemos pastores a levarem uma vida de ricos e se fazem transportar em viaturas de luxo. Alguém tem que pôr ordem nessas falsas igrejas milagreiras, vendedoras de banha de cobra.
A lei do Estado tem de se impor para fazer parar os roubos! Rouba-se no Estado. Rouba-se em casa e também nas igrejas milagreiras são um verdadeiro antro de roubalheira, de empobrecimento colectivo das comunidades, dos crentes e dos seus seguidores. Se o Estado tem como obrigação defender os seus cidadãos dos predadores, eis aqui uma missão patriótica de livrar os cidadãos das garras dos ladrões com vestes de anjo e não precisa de remeter nenhum ofício ou expediente ao Tribunal Administrativo como acontece com as dívidas ocultas!
Para quê não haja dúvidas, não estamos nem nunca estivemos qualquer que seja igreja ou religião, opomo-nos, isso sim, a igrejas que se proclamam depositárias de milagres que as expõem aos crentes em troca de dinheiro.