Como tem sucedido sempre que somos chamados para o recenseamento eleitoral, tenho sido dos primeiros a fazê-lo, desde que temos direito a voto directo em Moçambique.
Este 2018 não quis mudar essa rotina e ao segundo dia do censo eleitoral lá me fiz à minha tradicional assembleia de voto, a Escola Primária 16 de Junho, bem no centro da cidade de Maputo, a capital da República de Moçambique.
Quando cheguei estavam duas pessoas à espera de serem atendidas e uma terceira estava em pleno acto de registo. Esperei aproximadamente 30 longos minutos pela minha vez.
Enquanto isso, a fila ia crescendo e alguns depois de uns minutos perfilados murmuravam, lançavam alguns (justos, julgo eu) impropérios e desistiam, prometendo “voltar outro dia”.
O denominador comum dos desabafos e argumentos dos resilientes na fila e dos que resignavam era de que acreditavam que, pelo menos nos primeiros dias, não enfrentariam dificuldades/demora para se recensearem.
Engano redondo.
Em algum momento fiquei com pena das progenitoras, sejam elas sobrevivas ou já finadas, daqueles jovens brigadistas, em particular, e dos responsáveis pelo censo eleitoral e do Governo, em geral, pelos atributos desabonatórios que iam sendo a elas assacados.
Chegada a minha vez, enquanto procedia ao registo não resisti e indaguei aos jovens recenseadores, aparentemente simpáticos e bem-educados, a razão de tanta lentidão, ao que ripostaram alegando que tal se deve ao facto de estarem a trabalhar com uma máquina, porque a outra “avariou no primeiro dia”!
Uma máquina avariada ao primeiro dia de uso! Serão, efectivamente, novos os equipamentos que estão a ser utilizados? Se são, como se explica isso?
Outra pergunta que não quer calar é: porquê aquisição de novos equipamentos para a mesma actividade, cada vez que há recenseamento eleitoral?
Onde andarão os computadores e outros equipamentos dos censos anteriores?
Ninguém dos que gerem o dinheiro dos nossos impostos e dos impostos dos povos dos países que nos ajudam se espanta e/ou se incomoda com isto tudo?
Não julgo honesto que os apelos que os “excelências” lançam para nós outros aderirmos ao recenseamento eleitoral sejam acrescidos de alegações de que “é um processo muito rápido e não demora nada” porque o caso deles de forma alguma pode nem deve ser usado como amostra, pelos motivos que escuso aqui referenciar.
Nós, os simples, para recensear, precisamos de ser potenciais candidatos a prémio nobel de paciência!
Deviam, ao menos, nos poupar em certas coisas. Nós também temos sangue, vermelho!
A continuar a esta velocidade, será, mesmo, possível recensear os tais cerca de 8,5 milhões de putativos eleitores?
Depois fingem se espantar com a indiferença e/ou abstenções.
refinaldo chilengue
CM – 23.03.2018