Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
E que hoje África está melhor do que há quinhentos anos porque aprendeu algo com franceses, portugueses, ingleses... E não está melhor porque quer subsídios, dinheiros fáceis, riqueza sem esforço e sem trabalho. E, quando pode, prefere investir na Europa a fazê-lo na sua terra. Extraído de uma conversa com amigo Soares.
Semana passada, como tem sido costumeiro nos últimos anos, fiz-me à estrada para medir o pulsar do país. No decurso do périplo que termina em Maio próximo, revisitei a cidade da Beira, a segunda maior do país.
Os meus leitores poderão discordar de mim, a verdade porém é que, afora os seus habitantes, Beira tem pouco para oferecer. A cidade está em progressivo estado de degradação. A maioria dos edifícios, incluindo os que serviam de cartão-de-visita da cidade, está em ruínas. A imundice está em toda a parte. Parece demasiado brutal para ser real. Coitado dos beirenses!
Com a proliferação nociva de políticos malandros, egoístas e pouco dados a sacrifícios, existem ínfimas possibilidades de se resgatar as lindíssimas paisagens do Chiveve, no caso, a Beira. A paisagem, uma vez destruída, nunca mais será reencontrada.
Não exagero se disser que, com todo o respeito pelos seus munícipes, a cidade da Beira constitui actualmente um problema de saúde pública. A razão é evidente: a edilidade está a sufocar os munícipes e a destruir o valor que a Beira merece ter. A edilidade da Beira não tem estratégia para mudar o cenário desastroso, porque o monarca Simango insiste, na qualidade de servo, servir dois senhores ao mesmo tempo: munícipes e o seu partido MDM.
Posso estar enganado – podemos sempre estar enganados – mas todos os elementos da minha minuciosa observação levam a esta conclusão: Simango parece governar o município da Beira concentrado em láureas. É um edil obcecado em prémios. Os prémios, em Relações Internacionais, nunca são grátis. Dito de outra maneira, nenhuma ajuda é grátis. Ou é feita por interesse ou por amor. E raramente é por amor.
Corre-se o risco de hipotecar a vida dos munícipes em troca de programas de desenvolvimento infecundos, orientados a partir do estrangeiro. Se a cidade da Beira é lastimável, do ponto de vista de salubridade e gestão, como é que o seu edil ganha prémios no estrangeiro? Serviços de secretaria (tráfico de influência) ou competência?
A quem realmente interessa os galardões em terras estrangeiras, se Beira é um crivo? Ironicamente, alguns internautas dizem que os buracos da cidade da Beira são visíveis a partir da lua! Uma ocupação (estudo de caso) para os homens da NASA. Há que ter, no fundo do peito, um pouco de vergonha, porque, como diria o meu amigo Nkulu “As vergonhas nacionais não se exportam, são geridas na pátria.”
Em conversa com alguns citadinos da urbe, residentes na cidade de Tete, disseram-me o seguinte: “para que uma edilidade possa ter sucessos é necessário prover terras e construir ou reabilitar estradas de qualidade.” Ignorar estas regras básicas de gestão, é adiar o futuro. A edilidade dirá, provavelmente com alguma razão, que os fundos que recebe do governo central são exíguos. Contudo, ela (edilidade) não se pode furtar das suas responsabilidades.
Em resumo, apresento os principais problemas da Beira:
- Ausência de regras elementares de trânsito nas estradas (automóveis, motociclos e bicicletas andam em contramão);
- Fraco policiamento nas ruas (os larápios que estão em toda parte decretam, inconstitucionalmente, o Estado de sítio e o recolher obrigatórios, pois é difícil andar e circular livremente na urbe em determinados bairros e horários, porquanto os assaltos ocorrem à luz do dia);
- Edifícios sujos e malcheirosos (não há associações de condóminos e programas específicos de reabilitação dos edifícios, residências, etc.);
- Terrenos baldios propensos à propagação da malária e outras doenças endémicas;
- Edifícios históricos abandonados (vou-lhes dar o exemplo de quatro realidades que são mais presentes: hotel Dom Carlos, Grande hotel, Casa da Cultura e Casa dos Bicos);
- Semáforos invisíveis e disfuncionais;
- Ruas e avenidas não nomeados;
- Graves problemas no abastecimento da corrente eléctrica e água potável;
- Cinemas fechados há décadas;
- Falta de espírito de pertença (exemplo: a estrada que dá acesso ao “Caldeirão do Chiveve - campo do Ferroviário, é uma autêntica armadilha para os veículos);
Se minto, desminta-me por favor!
Zicomo e um abraço nhúngue aos trabalhadores do Restaurante Imperial pelo saboroso frango cafreal que manjei na companhia da minha esposa ASC.
NOTA: Nos últimos tempos da sua vida confrontamo-nos, cada um posicionado na sua “trincheira” (a diferença de “trincheira” não anula a verdade indefectível de que todos somos humanos, frágeis e efémeros), defendendo causas e convicções próprias. Deste modo, dado o carácter sagrado da vida e a incontornabilidade ou implacabilidade da morte, manifesto o meu profundo pesar pela morte do Comandante Zeca Caliate. Que Deus o tenha no eterno descanso.
WAMPHULA FAX – 09.04.2018