Independentistas da FLEC-FAC propuseram ao novo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas (FAA) um "roteiro" para a paz em Cabinda, disponibilizando delegação para negociar com o Governo angolano.
A FLEC-FAC, de Cabinda, enviou ao novo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas (FAA), António Egídio de Sousa Santos, um "roteiro" para a paz naquele enclave, disponibilizando uma delegação para, nos próximos 30 dias, negociar com o Governo de Angola.
A posição surge num comunicado divulgado esta quinta-feira (26.04) pelo autodesignado Estado-Maior das Forças Armadas de Cabinda (FAC), da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC), a propósito da nomeação, esta semana, do novo chefe do Estado-Maior General das FAA.
O comunicado, assinado pelo "general" Zing Zong Júnior Sousa, descrito no documento como inspetor-geral da Defesa Nacional das FAC, surge acompanhado de um vídeo, com a sua leitura, diante uma parada que junta dezenas de alegados guerrilheiros, armados, na floresta.
Tratado de Simulambuco
Esta organização luta há cerca de 50 anos pela independência de Cabinda, contestando sempre o que apelida de "invasão militar angolana após o acordo de Alvor", assinado em 1975, e considerando que "as autoridades políticas portuguesas, sem qualquer consulta aos cabindas, os entregaram aos angolanos".
A FLEC-FAC recorda que em 01 de fevereiro de 1885 foi assinado o Tratado de Simulambuco, que tornou aquele enclave num "protetorado português", o que está na base da luta pela independência do território.
Desde 2016, com o reativar dos ataques em Cabinda, a organização já reivindicou ter estado na origem da morte de dezenas de militares angolanos, em emboscadas, informação sempre negada pelo Governo e pelas chefias militares de Angola.
Roteiro visando acabar com hostilidades
Na mensagem, diretamente dirigida ao general António Egídio de Sousa Santos, o braço armado da FLEC-FAC refere que, na "busca incessante por uma solução pacífica para pôr termo ao conflito em Cabinda", propõe "um roteiro para pôr fim às hostilidades em curso".
Desde logo, os independentistas colocam como condição a "retirada progressiva das forças militarizadas angolanas do território de Cabinda", para "viabilizar o início de um diálogo com as partes".
Exigem ainda às FAA o "escrupuloso respeito dos direitos humanos e da dignidade da população de Cabinda, bem como a viabilização, "com o consentimento expresso" do Presidente angolano, João Lourenço, do "estabelecimento de contactos nos próximos 30 dias com uma delegação da FLEC-FAC para pôr fim definitivo às hostilidades" naquele enclave.
Situação em Cabinda
Em 08 de novembro, o Presidente angolano, João Lourenço, presidiu em Cabinda à primeira reunião descentralizada do Conselho de Ministros de Angola no atual mandato.
"Dar o sinal de que Cabinda é importante para nós. Vamos encarar Cabinda como um caso muito particular. Eu, pessoalmente, vou seguir de perto todos os projetos de Cabinda, todos os projetos para Cabinda, no sentido de podermos, nos próximos anos, reverter o atual quadro que a província vive e que, lamentavelmente, não é dos melhores", afirmou, na ocasião, João Lourenço.
Durante a reunião do Conselho de Ministros, o governador de Cabinda, Eugénio Laborinho, pediu ao Governo angolano a revisão ao Estatuto Especial daquela província, nomeadamente através de um regime fiscal diferenciado, para captar investimento.
"Propomos, senhor Presidente, que seja analisada a possibilidade de se atribuir a Cabinda um regime fiscal que conceda atrativos, benefícios e demais incentivos às empresas que pretendam cá investir, bem como aquelas que estão aqui sediadas", disse o governador provincial.
DW – 28.04.2018