… da margem do Rio Pitamacanha
Por: António Matabele - [email protected]
NIASSA
Se eu dissesse: “Niassa já acordou”, estaria longe da verdade.
Então, se eu disser: “Niassa vai acordar”, já ando muito próximo dela.
Mas se eu disser: “Niassa prepara-se para acordar”, agora, sim, atingi “a nádega da pulga”, porque é exactamente o que está em vias de acontecer.
Ai, o Niassa terra dos ajauas, nyanjas, macuas e de todos os moçambicanos, dos excelentes produtos agrícolas, pecuários, do bom peixe dos seus rios e lagos sem fim, com um subsolo rico de fazer inveja, precisa de acordar.
O nosso imortal Samora Moisés Machel ensinou-nos que a “victória prepara-se, a victória organiza-se”. E a Província do Niassa está na senda da implementação desta orientação do Fundador da República Popular de Moçambique.
Assim, sob os auspícios do Governo da Província do Niassa, realizou-se nos dias 06 e 07 de Abril na Cidade de Lichinga, Capital da Província do Niassa, um Seminário de âmbito nacional, sob o lema “COLOCANDO NIASSA NA ROTA DE DESENVOLVIMENTO”, destinado a discutir, divulgar, melhorar e estudar formas óptimas de implementação do conteúdo do documento denominado “PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO DO NIASSA PARA O PE PERÍODO 2018-2029 – PEN 2029”.
O PEN 2029, elaborado por pessoas de reconhecido gabarito intelectual, político, que teve massivo envolvimento das populações e sociedade civil, é parte integrante do processo provincial de planificação, com a finalidade de promover o desenvolvimento socioeconómico da província, partindo do pressuposto que este é um processo de abordagem holística, integrada, sustentável e participativa.
O PEN 2029 é o corolário de acções de implementação de planos de desenvolvimento anteriores como “Niassa 2000”, “Niassa 2005”, PEP 2017 e das ricas experiências trazidas das zonas libertadas pela Frente de Libertação de Moçambique, durante os 10 anos de luta armada de libertação nacional. Nesta óptica, o PEN 2029 tem em conta o conhecimento de base que a província dispõe sobre o desenvolvimento socioecónomico local, por meio da exploração sustentável das suas potencialidades e dos esforços necessários para materializar as “oportunidades escondidas” nos desafios da província.
O seminário teve o mérito de evidenciar que a Província do Niassa dispõe de inúmeros e ricos recursos, cuja exploração racional para o benefício do desenvolvimento das populações habitantes naquela parcela do País ainda estão muito aquém das expectativas.
Existem, consequentemente, desafios em estado de latência que urge transformá-los em oportunidades e factos concretos para a geração de riqueza intangível e material naquela Província.
Sobre riqueza intangível falamos da educação com qualidade, disseminada no seio das largas massas populacionais habitantes no Niassa, porque se estas dominarem a ciência e a técnica estarão melhor habilitadas a gerirem os seus recursos e explorá-los-ão, em ciência, com melhor eficiência.
Mas neste momento o grande desafio é evitar-se que o seminário em questão seja somente mais um mero encontro de debates de ideias bonitas, mas que nada, subsequentemente, ocorra na prática.
Dado que por espartilho de espaço – só posso utilizar 500 palavras – voltarei a este assunto na próxima semana.
NIASSA - II,
Uma casa mesmo que construída com os melhores materiais deteriora-se se fica muito tempo desabitada. A este respeito diz certa crendice popular que os maus espíritos se alojam nela e estragam-na.
É preciso habitar a casa, cuidar dela, acender o fogo diariamente, limpá-la todos os dias e suas paredes impregná-la com “vozes de pessoas vivas”.
Alguns economistas desenvolvimentistas teorizam que o hipopovoamento de um território, “mutatis mutandis” é um “handicap” ao seu desenvolvimento, semelhante ao de uma boa casa desabitada.
Poucos habitantes num espaço territorial é prejudicial porque o mesmo fica sem guardas naturais, sem pessoas que no mesmo desenvolvam actividades geradoras de rendimento.
Em suma, é terreno de ninguém no qual todos se julgam com o direito de suas riquezas explorar sem quaisquer regras nem critérios.
As recentes estatísticas nacionais persistem dizendo que o Niassa continua sendo uma das Províncias mais hipopovoadas e a de menor densidade populacional neste Moçambique de 28,9 Milhões de habitantes, mas que nem pela aparente grandeza desta cifra, deixa de ser um País pouco populoso, se olharmos à sua extensão territorial, que é de 799.380 km². Portanto, a província do Niassa, não fugindo ao contexto do diapasão nacional (moda) é hipopovoada.
Como se vê da tabela comparativa acima o “handicap” do hipopovoamento de Moçambique e da Província do Niassa é agravado pelo facto de ser uma população com déficite de escolaridade em termos de domínio da ciência e da técnica indispensáveis ao processo de desenvolvimento do espaço territorial do País e da Província.
Niassa é uma Província de fraco povoamento humano, mas potencialmente muito rica em recursos humanos e naturais. A riqueza das pessoas manifesta-se na sua juventude, inteligência e entrega ao trabalho, com vontade de vencer o marasmo de pobreza em que está atolada. E os recursos naturais são abundantes no solo, subsolo, fauna, flora, florestas, rios, lagoas, peixes e em muitos etc, etc, etc...
Os recursos humanos ainda padecem de pouco domínio da ciência e da técnica para proveitosa exploração e utilização dos inúmeros e ricos recursos naturais prodigalizados pela divina providência e a sempre mãe natureza.
Por ser província rica em recursos, hipopovoada por gente, infelizmente, ainda pouco preparada científica e tecnicamente, Niassa necessita de um programa de treinamento das suas pessoas para melhor guardarem e gerirem o seu património para seu próprio bem e de Moçambique uno e indivisível. Assim hipopovoado por gente sem muito “skill” nem “know how”, Niassa está a mercê de apetites desregrados e sem freio de pessoas provenientes, também, do exterior que vêm pilhar as suas riquezas sem observância de quaisquer princípios consentâneos com a Lei e com o Meio Ambiente.
Para que as ideias discutidas naquele seminário passem do papel para o terreno, urge que seja elaborado um PLANO DE ACÇÃO, contendo um cronograma com as principais realizações que devem ser concretizadas imediatamente, a curto, médio e longo prazos, trazendo detalhes quanto aos recursos – humanos, financeiros e materiais - necessários para a sua realização.
Qualquer plano deverá ser guiado por princípios de integração dos recursos humanos locais, que contribuam com a sua experiência de preservação da riqueza e conquistem melhor qualidade de vida como objectivo primordial a ser atingido.
A ênfase que deveremos colocar no Plano de Acção preconizado nestas duas reflexões incidem fundamentalmente na EDUCAÇÃO e FORMAÇÃO de qualidade a ser implementada no Niassa para tirarmos do papel as boas decisões saídas do Seminário sobre o PEN - 2029.
WAMPHULA FAX – 18/25.04.2018