A Procuradora-Geral da República, Beatriz Buchili, prestou ontem seu quarto informe ao Parlamento. Falando sobre dívidas ocultas, Beatriz Buchili disse que a ter havido desvio de fundos, estes foram praticados a partir de instituições no estrangeiro, visto que todos os valores dos empréstimos foram transferidos dos bancos credores situados no estrangeiro, para empresas fornecedoras de bens e serviços também situadas no estrangeiro e por isso, “toda a informação relevante para o seguimento dos valores e aferir dos eventuais desvios, só poderá ser coligada com a colaboração das autoridades judiciárias estrangeiras dos países com que os valores tiveram contacto, como destino ou mero trânsito”.
Esta resposta da guardiã do povo não agradou às bancadas da Renamo e do MDM e hoje, na sessão de perguntas de insistência, os deputados sugeriram que Buchili apresentasse sua demissão.
Aliás, para a Renamo, na voz de António Muchanga, Beatriz Buchili não tem estado a zelar pela legalidade do país, mas a servir interesses alheios. “Nesta sessão, não tivemos a Procuradora-Geral da República, tivemos advogada daqueles que levaram o país a contrair dívidas”, disse.
Também questionou se a Procuradoria estaria a dizer que não há nada por se investigar no país, uma vez que supostos desvios terão sido feitos a partir de fora. “Como vai proceder à instrução preparatória, já que as coisas aconteceram no estrangeiro. Será que duvida das conclusões da Kroll?”
Muchanga disse que a dívida está a ser paga pelos moçambicanos. Questionou que países não estão a colaborar para o esclarecimento do caso e foi mais além, disse ver na Procuradora um obstáculo na resolução do caso. “A Procuradora comporta-se que nem pilatos, lavou as mãos”, e continuou “Torna-se difícil reconhecer em si a dignidade de uma Procuradora-Geral da República. Não reconhecemos esforço em resolver o esquema. Nem a senhora acredita no que diz. Se tiver dignidade por preservar, demita-se já!”
O MDM disse repudiar o informe apresentado por Beatriz Buchili. Disse também estar incrédulo pelo facto de passados três anos, não haja um sequer arguido no caso das dívidas ocultas. Na voz de Fernando Bismarque, o MDM tomou a mesma posição que a Renamo: “Demita-se, senhora Procuradora”, disse.
Já a Frelimo disse que o informe foi claro e informativo. Por outro lado, enalteceu as diligências feitas, no caso das dívidas, que culminaram com a submissão do processo no Tribunal Administrativo.
O PAÍS – 26.04.2018