Diz, agora, que foi publicada uma versão do elogio fúnebre sobre a qual não houve consenso.
O Conselho Cristão de Moçambique publicou, na passada terça-feira, no jornal “Notícias”, um elogio fúnebre a Afonso Dhlakama, elevando o presidente da Renamo ao nível de Moisés, por também ter sofrido quarenta anos no deserto e, quando aparentemente faltava pouco para a glória, morreu também em local e “circunstâncias não dignas”. Em nota de esclarecimento publicado no mesmo jornal dois dias depois, o mesmo Conselho Cristão de Moçambique, em outro comunicado, apararece a “lamentar a publicação por lapso, de uma versão” do documento sobre a qual diz que não houve consenso. “O texto enviado ao jornal notícia não corresponde à versão produzida e ‘consensualizada’ no seio dos membros do colectivo, devido a uma troca inadvertida ocorrida nalgum momento do
processo de tramitação do expediente”, lê-se na nota rectificativa. Mas este comunicado não esclarece qual é o teor da versão sobre a qual se chegou a consenso. O Conselho Cristão de Moçambique é a versão eclesiástica das chamadas “Organizações Democrática de Massas” do partido Frelimo, e os sucessivos dirigentes do Conselho Cristão de Moçambique têm-se destacado no apoio ao Governo chefiado por esse partido, mesmo no período mais recente dos confrontos armados entre a Renamo e o Governo, e, por isso, criou perplexidade o documento do Conselho Cristão de Moçambique que exalta Dhlakama. No anúncio necrológico do Conselho Cristão de Moçambique – que foi das poucas instituições que emitiu um anúncio necrológico –, lê-se: “Este homem é filho de Deus que veio ao mundo e especialmente a Moçambique com uma missão es
pecífica de completar a liberdade do povo moçambicano, depois da independência nacional do país perante o subjugo colonial em 1975”. Segundo o Conselho Cristão de Moçambique, Dhlakama, depois da proclamação da Independência, em 1975, “viu que ainda falta a independência política, económica e social pelo qual se empenhou na sua busca, como um bem-estar que ainda não alcançou o seu clímax”. No anúncio necrológico, o Conselho Cristão de Moçambique diz que Dhlakama “não é o primeiro sofredor em libertação de um povo que não chega à conclusão do seu objectivo; Moisés sofreu quarenta anos no deserto e faltando pouco para a glória foi ao descanso e com a certeza de que se vai alcançar a vitória veio o Josué para terminar o percurso da história”.
Dirigindo-se à família enlutada, o Conselho Cristão de Moçambique escreveu: “Deus vos console e vos dê a recompensa pela mordomia oferecida, e ao ilustre Afonso Dhlakama, descanse em paz e tranquilo, que não tenhas sofrido em vão, a sua história fica escrita nos corações do povo moçambicano”. (Eugénio da Câmara)
CANALMOZ- 21.05.2018