O jornalista e comentador político Ericino de Salema, raptado e espancado em Maputo, a 27 de Março, está a recuperar dos ferimentos, disse ontem à Lusa uma fonte da organização de defesa da liberdade de imprensa MISA Moçambique.
"Ele está a recuperar positivamente e está a transmitir-nos uma mensagem de vitalidade e de continuidade", referiu Ernesto Nhanale, jornalista e membro da organização não-governamental MISA Moçambique.
Ernesto Nhanale falava à Lusa na sede do Sindicato de Jornalistas, em Maputo, à margem da entrega do prémio de jornalismo da União Europeia (UE) para trabalhos sobre direitos humanos.
O MISA Moçambique tem conversado com Ericino de Salema, que continua em tratamento numa unidade de saúde da África do Sul, depois de ter sofrido várias fracturas que lhe tiraram a autonomia para caminhar.
Nesses contactos, Salema tem referido que "o caminho a seguir é continuar a lutar pelo bem-estar” de Moçambique e pela defesa do trabalho dos jornalistas, disse Ernesto Nhanale.
"Ele tem vindo a estimular-nos para continuarmos na vanguarda da defesa da liberdade de imprensa", resumiu.
O representante da UE em Moçambique, Sven Von Burgsdorff, disse à Lusa que a delegação europeia "está a seguir o processo".
"Penso que está a ser investigado pelas instâncias judiciais do país. Não conheço os últimos passos", referiu.
"Não é por coincidência que achamos importante desenvolver o jornalismo de investigação com enfoque nos direitos humanos", realçou, numa alusão ao prémio hoje atribuído.
Sven Von Burgsdorff disse ter sido chocante assistir ao caso de Ericino de Salema, que "infelizmente não foi o primeiro” de um jornalista ou comentador agredido por desconhecidos em Moçambique.
Considera positivo, ainda assim, que, apesar das ameaças à liberdade de expressão, haja "jornalistas com coragem e ambição".
Diversas organizações da sociedade civil moçambicana entregaram em Abril uma petição à Assembleia da República, pedindo àquele órgão para pressionar as instituições de justiça a esclarecer os casos de violência contra críticos do Governo e da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).
Em 2015, o constitucionalista moçambicano de origem francesa Gilles Cistac foi mortalmente baleado na capital moçambicana e no ano seguinte o politólogo José Macuane sobreviveu após ter sido raptado e alvejado numa altura em que também era comentador do "Pontos de Vista".
Nenhum dos crimes foi esclarecido pelas autoridades.
LUSA – 18.05.2018