Há quem chame "o espremedor" ou "a flor invertida" à Igreja de Santo António da Polana, em Maputo, um local de culto religioso com um desenho invulgar, obra da arquitectura colonial portuguesa que corre o risco de se degradar.
"Estou a molhar-me", ouve-se no meio da missa, por causa das infiltrações na cobertura, conta à Lusa, Esperança Buque, umas das paroquianas que se dedicada a cuidar da igreja e a angariar fundos para as obras de recuperação.
Ao longe, a construção parece um espremedor de citrinos gigante, ao perto nota-se que toda a estrutura de betão está a ser descascada, num trabalho de paciência que vai permitir depois cobri-la com um novo revestimento e acabar com as infiltrações.
"A minha expectativa é que a igreja fique renovada ainda este ano", conta o padre Miguel Benjamim.
Membros da paróquia e voluntários têm se desdobrado em contactos e iniciativas para recolher donativos, porque as obras, no valor de cinco mil euros, já estão avançadas, mas ainda falta dinheiro para as concluir.
A Igreja da Polana foi projectada por Nuno Craveiro Lopes e construída em 1962, sem imóveis em redor, imponente e com vista para o mar do alto da sua torre.
"Eu, quando era jovem, via primeiro a luz dela. Aqui na zona circunvizinha, naquela altura, havia poucos prédios e ela destacava-se", recorda a ex-primeira-ministra de Moçambique, Luísa Diogo.
Os vitrais no topo dão-lhe cor no céu nocturno, de tal forma que, "mesmo a aterrar de avião, vê-se a luz", recorda.
A antiga governante moçambicana e actual presidente do Conselho de Administração do banco Barclays no país quer que as obras façam aparecer a igreja da sua juventude, "límpida e reluzente".
Luísa Diogo é hoje uma das voluntárias que tenta angariar fundos para as obras porque naquele espaço viveu alguns dos momentos mais marcantes da sua vida.
Ali se casou, ali se despediu do pai quando morreu e ali levou por diante uma das suas maiores odisseias: organizar o baptizado de nove crianças.
Doar é fácil para quem tem episódios marcantes vividos na Igreja da Polana, reconhece, mas também o deve ser para quem não tem porque a obra arquitectónica "é um postal de Maputo".
"A igreja contribui para a actividade turística", refere o padre Miguel Benjamim, recordando que está classificada ao abrigo da lei de património cultural.
É certo que o país - classificado entre os mais pobres do mundo em índices internacionais - precisa de muita coisa, mas "uma igreja também tem importância para o homem".
Esta, em especial, "tem uma arquitectura invejável e deixá-la degradar-se seria uma grande perda. Apesar de estamos em crise, temos que a recuperar".
As únicas obras de reabilitação da Igreja de Santo António da Polana aconteceram em 1992.
LUSA – 26.05.2018