O Comando-Geral Polícia da República de Moçambique (PRM) confirmou a decapitação de dez cidadãos na província de Cabo Delgado pelo chamado Al-Shabaab. “Destas vítimas temos dois que eram adolescentes” lamentou Inácio Dina, o porta-voz da instituição, que afirmou que a situação nos distritos é estacionária porque as Forças de Defesa e Segurança estão a “caçar este grupo de indivíduos que está bastante fragilizado”, no entanto não sabe quantos membros restam deste movimento que académicos apuraram ter recrutado centenas de jovens. Entretanto o Governador da provinha nortenha revelou que o grupo fez outras duas vítimas mortais no distrito de Macomia.
A PRM confirmou a ocorrência de crimes hediondos nas aldeias de 25 de Junho e Monjane, no distrito de Palma, a Norte da província de Cabo Delgado sem no entanto conseguir precisar quando efectivamente aconteceram. “Há relatos de um ter sido às 22 horas e outro ter sido ao amanhecer (do dia 26 para 27) mas ainda estamos a apurar”, disse a jornalistas em Maputo o porta-voz da corporação.
“Foram sim dez concidadãos que perderam a vida com recurso a armas brancas, especificamente do tipo catana. Lamentar que destas vítimas temos dois que eram adolescentes, de 15 e 16 anos, que se estavam a deslocar para a sua actividade de busca de alimento, nas zonas rurais tem-se buscado ratazanas. Este grupo de criminosos encontrou estes dois adolescentes e retirou-lhes a vida”, detalhou Dina.
“A polícia quando tomou conhecimento em conjunto com as outras forças que estão posicionadas naquele ponto iniciou um processo de perseguição que está a decorrer até então. O que nós estamos a fazer é caçar este grupo de indivíduos que está bastante fragilizado”, declarou o porta-voz do Comando da PRM acrescentando que o grupo que as comunidades locais chamam de Al Shabaab “após o acto colocou-se em fuga e até então continua”.
Inácio Dina esclareceu aos jornalistas que: “Tudo o que está sendo feito neste momento é encontrar estes indivíduos para coloca-los na prisão para a devida responsabilização de forma copiosa como tantos outros já os colocamos na barra do tribunal para serem responsabilizados”.
“Neste momento o ambiente nós descrevemos como estacionário, as pessoas estão a voltar normalmente a consciência e a procurar retomar com as suas vidas, o nosso posicionamento naqueles pontos está a permitir que haja confiança por parte das comunidades”, referiu a fonte policial.
Polícia não sabe quantos mortos acontecerem desde Outubro e nem quantos membros restam do Al Shabaab
Questionado sobre a alegada “fragilidade” do grupo e sobre quantos membros fazem parte del, Dina disse: “Neste momento não temos a precisão do número mas o que queremos assegurar é que de longe sejam números daquele grupo que em Outubro protagonizou o acto (...) 300 foram detidos”.
Todavia a Procuradora-Geral da República indicou no seu Informe à Assembleia da República que na sequência dos ataques e confrontos armados de 5, 6 e 7 de Outubro de 2017 e que vitimou cinco agentes da polícia no município de Mocímboa da Praia, “foi aberto um processo-crime com 133 arguidos em prisão preventiva (...) dos quais 32 estrangeiros de nacionalidade tanzaniana”.
Para além não saber exactamente quando os dois últimos ataques aconteceram, não ter conhecimento de quantos membros tem o grupo de “criminosos”, as autoridades policiais também não souberam dizer se entre as dez vítimas existem familiares e nem mesmo quantas vítimas mortais ocorreram desde os primeiros ataques em Outubro de 2017.
Ainda esta terça-feira (29) Júlio Parruque, o Governador da província de Cabo Delgado, revelou que o Al Shabaab fez mais outras duas vítimas mortais no distrito de Macomia.
O jornal Mediafax reporta que mais duas pessoas terão sido decapitadas nesta terça-feira (29) numa zona costeira situada na região limite entre o Posto Administrativo de Olumbi e o distrito de Mocímboa da Praia.
No entanto o académico João Pereira, co-autor de um estudo sobre este movimento que aterroriza o Norte da província de Cabo Delgado, referiu que o grupo que as populações chamam de Al Shabaab é constituído por células com 10 a 20 jovens, “e conseguem multiplicar-se num distrito para 20 ou 30 células, diziam-nos fontes locais que só no distrito de Mocímboa da Praia eram pelo menos mil jovens que estavam directa ou indirectamente ligados a essas mesquitas e que operavam nas redes informais. Uma outra fonte disse-nos que só na vila (de Mocímboa da Praia) os Al Shabaab tinham cerca de 350 fiéis”.
De acordo com o estudo apresentado no passado dia 23 este Al Shabaab moçambicano tem dois objectivos. “O primeiro é criar uma situação de instabilidade na Região para permitir o negócio ilícito no qual as suas lideranças estão envolvidas. O outro, é a partir desses negócios ilícitos alimentar outras redes que eles têm ligação, por exemplo os comandos das milícias no Congo, na Somália, no Quénia e na Tanzânia”.
* Com Emildo Sambo
@VERDADE – 29.05.2018
NOTA: Repito o comentário por mim colocado noutro local:” Tenho a convicção de que o móbil económico pode ser posto de lado, pois ladrão não que dar nas vistas, aproveita a calada da noite. Procurem-se outras razões. Lá mais para trás, relembrando que a Frelimo nunca se implantou no litoral de Cabo Delgado e em Nampula. Seria de muita valia saber se os assassinados, de agora e antes, eram maioritariamente da etnia maconde. A religião não passará de uma "capa". Os mandantes estão fora de Moçambique. A Frelimo também tinha os mandantes fora de Moçambique. Por exemplo a Frelimo atacou Olumbi várias vezes, onde só haviam milícias(não militares), e foi sempre escorraçada pela auto-defesa.”
Na notícia acima lê-se que “que destas vítimas temos dois que eram adolescentes, de 15 e 16 anos, que se estavam a deslocar para a sua actividade de busca de alimento, nas zonas rurais tem-se buscado ratazanas.”
Pelo que lerão abaixo, escrito por Pedro Nacuo em 24 de Julho de 2016 no Jornal DOMINGO, é natural que estes jovens sejam macondes o que de certa forma confirma as divergências entre macondes e quimuanes.
Vejam aqui: …“Era a vez de apanhar qualquer meio que nos aceitasse, de que modo fôssemos sentados. Estava claro que o Remígio teria mais dificuldades, a sua bagagem era bem enorme e de certa maneira descomunal, mais pelo seu conteúdo. Cerca de 100 quilos de ratos, caçados nas margens do rio Megaruma, que divide os distritos de Ancuabe e Chiúre. O destino era a vila autárquica de Mueda, onde afinal os roedores são um alimento bem apreciado.”
Em 05.07.2017: “Não há indicação da natureza e das motivações", observou Inácio Dina, acrescentando que o grupo se expressava em português, suaíli e quimuane, linguais faladas localmente, concluiu.
E não nos esqueçamos de que, sendo o PR de origem maconde, o governo é com eles confundido. E a forma como o reassentamento em Palma está a ser feito, também ajuda ao descontentamento dos locais.
Fica pois esta sugestão, já aflorada, como ponto de partida para o aprofundamento do estudo sobre a situação que se vive em Cabo Delgado.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE