Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
Pensar nos outros, sofrer pelos outros, entregar-se aos outros, tudo isto é imitar o Mestre Jesus. Alfonso Milagro, Os Cinco Minutos de Deus, 2015, p. 78.
Escrevo de São Sebastião da Giesteira, uma freguesia do Concelho de Évora, com 3 km² de área e 760 habitantes (2011). Vim para cá a convite do meu grande amigo angolano, padre Alberto Aniceto Dâmaso Dangala, que é uma verdadeira paz de alma. Devo dizer-lhes, em breves palavras, que São Sebastião da Giesteira é uma terra fascinante. O azul do céu, com estrelas de brilho cintilante, e o verdejar dos campos dão à São Sebastião da Giesteira uma beleza única. A tradição e a modernidade caminham, numa salutar interdependência, juntas.
A diminuta população de São Sebastião da Giesteira trabalha duro dia e noite para impulsionar a actividade da freguesia que é, por força da sentença política de vários governos, rural. Não há indústrias, apesar de ser um dos consideráveis produtores da cortiça e do gado bovino da região do Alentejo. O esforço da população local é redobrado, porque parte inquantificável das forças vivas de São Sebastião da Giesteira emigrou para onde as dinâmicas das grandes capitais prometem leite e mel.
Nesta direcção, importa referir que no passado domingo, 20, celebrou-se na Igreja Paroquial de São Sebastião da Giesteira as Promessas do Agrupamento 1121, entre os quais, 2 Lobitos, 4 Exploradores e 3 Caminheiros, que, na companhia de outros já consagrados, estarão ao serviço da comunidade, do país e do mundo em geral. Eu há pouco referi-me do papel da Igreja Católica na formação do “Homem novo”, mas a igreja não é mais do que uma simples instituição filantrópicas. Ora, sem querer tornar esta crónica um relato jornalístico, permitam-me, caros leitores, que vos fale um “pouco” do papel do padre António Salvador dos Santos. É esta nobre figura que, há mais de 40 anos, tem dedicado a sua vida à causa religiosa. Eu diria, em síntese, que a História da Igreja Católica em São Sebastião da Giesteira é a história do padre António dos Santos.
A partir de uma região até então remota fez nascer num terreno baldio uma igreja que tem catequizado e conquistado milhões pessoas e todas elas, humildemente, têm-se tornado peregrinos de Cristo. Andou pelo mundo fora e tudo aquilo que conseguiu aforrar ofereceu à igreja e aos pobres. São objectos valiosos, tais como ouro, prata, bronze, diamantes, medalhas, moedas (obras literárias como o Lusíadas e outras), etc., que estão patentes na Casa Museu. Sobre este empreendimento e acções de graça, o padre António dos Santos escreveu no pórtico da sua obra intitulada Um Sonho, a seguinte frase:
Como apêndice, registamos o aparecimento da Casa Museu para guardar e mostrar alguns artefactos existentes e deixar a doação de pequenas recordações, feita pelo autor deste livro, nas suas aventuras em peregrinação por todos os continentes, não por vaidade ou exibicionismo, mas com a intenção de enriquecer este pequeno espaço museológico e também como expressão de agradecimento pelo acolhimento que teve nesta paróquia. Três palavras-chave resumem o trecho: Casa Museu, doação e peregrinação.
Porque a demanda é maior, a igreja decidiu ampliar os lares de idosos que são administrados conjuntamente com o padre Aniceto Dangala, para tornar mais digna e activa a vida das chamadas pessoas da terceira idade. Este progresso social visa ainda “o retardamento e a estabilização do processo de envelhecimento nos idosos.” Os idosos, reivindicando o seu espaço e importância na sociedade, escreveram em pedaços de papéis uma frase comum que muito me comoveu: “Velhos são os trapos.” Uma boa parte da comida que alimenta os lares de idosos é produzida numa pequena machamba que é eximiamente cuidada pelo seu mentor o padre Dos Santos.
Durante o almoço (uma deliciosa caldeirada de frango acompanhada de gelatina à sobremesa e um licor tradicional preparado pelo padre Santos) perguntei ao padre qual era a razão de viver pelos outros, numa altura em que os Estados estão mais preocupados em capitalizar os seus orçamentos para aumentar e sofisticar arsenais de guerra com os quais vomitam bombas contra nações economicamente frágeis e, por outro lado, sociedades inteiras que se deixaram corromper por trinta moedas de prata (preço pelo qual Judas Iscariotes traiu Jesus Cristo) em nome de uma mortífera globalização. Visivelmente emocionado, mas consciente, respondeu-me: “A minha vida, Viriato, é uma peregrinação constante para a felicidade dos outros.” Robert Baden-Powell, fundador do Escotismo, dizia exactamente estas palavras carregadas de um enorme simbolismo “Deixe o mundo um pouco melhor do que encontrou.” Eu penso que os padres António dos Santos e Aniceto Dangala são pequenas “ilhas” neste imenso “Vale de Lágrimas.”
O valor de um cristão resume-se a isso: bonomia (bondade natural aliada à simplicidade de maneiras) e solidariedade gratuitas. Se não formos capazes de partilhar com o próximo o mel da colmeia da vida, renunciamos à nossa condição humana. Nenhuma lição pode ser melhor transmitida e aprendida que o valor da solidariedade. Aprendam o exemplo de São Sebastião da Giesteira.
Zicomo e um abraço nhúngue aos escoteiros do mundo inteiro.
WAMPHULA FAX – 28.05.2018