O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi fundado em 2009
Se a saída de António Frangoulis do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a segunda maior força da oposição no país, expôs a crescente crise no partido, por outro lado abriu uma brecha para ser alvo de críticas e de suspeitas.
Na hora de saída do MDM, António Frangoulis, entre outras coisas, acusou o partido de não ser verdadeiramente democrático. E as reações ao seu desligamento do MDM não tardaram em chegar: alguns setores e internautas nas redes sociais acusam Frangoulis de espiar a segunda maior força da oposição em Moçambique ao serviço da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder.
"Se eu fosse espião, se ainda fosse da FRELIMO, a senhora não estaria a falar comigo agora", respondeu à DW África quando confrontado com a acusação. "Quando se tem compromissos dessa natureza, pelo menos na nossa filosofia, na nossa maneira de ser, não se fica muito tempo em pé. Mas estou muito limpo e mais do que limpo, muito descansado, tranquilo porque isso que dizem não tem nada a ver comigo, ando de cabeça erguida", sublinha Frangoulis.
Polícia e ex-membro da FRELIMO
Antes de se filiar no MDM, António Frangoulis era membro da FRELIMO e foi também diretor da Polícia de Investigação Criminal (PIC) da cidade de Maputo e adjunto comissário da Polícia - cargos que costumam ser associados à confiança política.
Reagindo à saída de António Frangoulis do MDM, o porta-voz do partido, Sande Carmona, deixa entender que o antigo membro tinha outros objetivos no partido. "Frangoulis entra no MDM em 2014 e o MDM foi fundado em 2009. Significa que Frangoulis entrou para apreciar a posição do MDM, a qualidade do MDM. E os seus interesses não foram acomodados, daí que pense o que pensa e diga o que disse. Não é o MDM que se responsabiliza pelo pensamento dele, esse é o pensamento dele pessoal", afirma.
Frangoulis, que se destaca publicamente pela sua frontalidade no debate de temas polémicos, argumenta que essa sua postura tem lhe valido problemas, já nos tempos em que era membro da FRELIMO. O ex-polícia garante que a sua postura é resultado da sua independência, que tanto preza.
Críticas à porta das eleições
A DW África perguntou a António Frangoulis por que motivo as suas críticas públicas e a saída acontecem só agora, quando se aproximam as eleições autárquicas.
"Era preciso que se desse tempo ao tempo", justifica. "Porque existe mais gente, que saiu [do partido], até certo ponto apreensiva com a posição tomada no II Congresso. Era preciso dar tempo porque havia uma réstia de esperança, que residia no Conselho Nacional. E este Conselho é que dirige os destinos do partido no intervalo dos dois congressos. E podiam ter chegado a uma conclusão de que houve uma falha e de que podiam concertar".
No II Congresso do MDM, Frangoulis defendeu que devia haver eleições internas para a indicação dos órgãos deliberativos e seus titulares. Entretanto, segundo alega, essa e outras propostas dos membros do partido foram rechaçadas.
Por Nádia Issufo
DW – 22.06.2018