EUREKA porLaurindos Macuácua
Cartas ao Presidente da República (100)
Pois é, Presidente: esta é a minha centésima carta. Estou contente por ter chegado a tanto. E, todavia, infeliz por a famosa água mole em pedra dura ter batido tanto e até aqui ainda não ter furado. Talvez quando chegarmos a ducentésima correspondência.
Sei que desde ontem o Presidente está na província de Inhambane para mais uma visita de trabalho. Bom proveito. Bom: isto não é tipicamente uma crítica. É, antes, um reparo. Há dias, o Presidente esteve presente na inauguração do Baia Mall, um projecto que contempla um hotel, mais de 100 lojas, restaurantes, área de serviços, parque para mais de 900 viaturas, entre outras infra-estruturas.
E, na ocasião, disse tratar-se de um importante empreendimento que vai aliviar os moçambicanos que percorriam grandes distâncias à procura de produtos de qualidade, para além de ser prova de que Moçambique está de volta, graças à sua gente trabalhadora e patriota. E em remate- para o arrepio dos atentos-: “Tudo o que se produz e se comercializa no mundo pode ser encontrado aqui neste local”. Não restam dúvidas de que o Presidente segue as mesmas políticas de doidivanas dos sucessivos Governos da Frelimo. Contenta-se porque inaugurou-se um alto empreendimento, mas não faz a pergunta de fundo a si mesmo.
Até que ponto, nestes empreendimentos de capitais internacionais que o Presidente vai inaugurando, estão presentes os produtos nacionais? Quer dizer: Moçambique é um imenso supermercado dos países que melhor se organizaram para produzir a sua comida e o nosso Presidente bate palmas? Não estou eu aqui a pôr em causa se esses empreendimentos dão emprego aos moçambicanos ou não.
Preocupo-me com a nossa produção que está estagnada e as políticas governamentais não ajudam em nada para se sair disso. Moçambique possui 36 milhões de hectares para a produção agrícola. Dos 15 rios existentes na África Austral, nove desaguam no País, todavia não temos uma produção de relevo. Contentamo-nos em comercializar até o piripiri da África do Sul. Presidente, saiba que esses países que têm Moçambique como principal palco para comercializarem os seus produtos alimentares, não usaram medidas mágicas para induzirem a sua população a produzir.
Foram políticas bem elaboradas que levaram a isso. E nós, volvidos quase cinquenta anos depois da independência, continuamos à deriva. E de nada servem lamentos, desculpas ou defesas retóricas dos sucessivos Governos da Frelimo. O importante é haver foco-coisa que me parece que falta a este Governo.
O Presidente é que segurou o leme deste País. Tem por obrigação não se servir a si, mas, primeiro, ao povo moçambicano em jeito de políticas bem desenhadas e estruturadas. Não me parece que seja necessário consultar o “Nhamussoro” para isto!
O problema da Frelimo é que está para se servir. Ou seja, a vontade popular, em Moçambique, foi sequestrada para servir aos nefandos desígnios da súcia dos camaradas. Sai um Presidente e entra outro, mas nada muda. A táctica de se abastecerem é a mesma. É como dizia um conhecido meu: só muda o rosto do ladrão!
E quando nos queixamos, activam-nos as falanges do ódio. Os esquadrões da morte. Dizem que pertencemos ao “lado de lá”, somos “reaccionários”. Entenda-se por “reaccionários” aqueles que não rezam segundo a cartilha consagrada dos camaradas. Cáspite!
DN – 15.06.2018