Em Inhambane, Filipe Nyusi considera legítima a insatisfação da população por não beneficiar dos recursos naturais, Mas não comenta os ataques no norte do país, desiludindo população e analistas.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, reconheceu esta quinta-feira (14.06) a legitimidade das reivindicações das populações que exigem uma maior partilha das receitas dos recursos naturais.
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DW-Presidente de Moçambique Filipe Nyusi não quebra silêncio sobre ataques no norte
"Vocês têm razão, temos de trabalhar todos para que os recursos naturais beneficiem o povo", afirmou Filipe Nyusi num comício na província de Inhambane, sul de Moçambique, onde iniciou uma presidência aberta de três dias.
Nyusi respondia assim a reclamações da população do distrito de Panda, que se queixa de não ter benefícios com os rendimentos gerados pela exploração de gás natural pela petrolífera sul-africana Sasol nas suas concessões em Inhambane.O chefe de Estado moçambicano afirmou que o Governo central e as autoridades locais devem encontrar formas de assegurar que as receitas provenientes da exploração dos recursos minerais sejam usadas para o desenvolvimento socioeconómico do país.
População estranha silêncio presidencial sobre ataques
Na sua intervenção Filipe Nyusi, não se referiu ao assunto do momento: os ataques perpetrados por grupos armados desconhecidos no norte do país, que preocupam a população moçambicana.
Cidadãos contactados pela DW África estranharam o silêncio do Presidente face a esta situação e reafirmaram que estão preocupados com a situação na região norte de Moçambique
"Ficamos tristes quando acompanhamos os ataques em Palma e Mocimboa da Praia, mas estamos cientes e confiantes que isto tem os dias contados", disse à DW um cidadão.
O Presidente da República, Filipe Nyusi, limitou-se a recordar os ataques de homens da RENAMO no distrito de Funhalouro em Inhambane nos últimos anos e garantiu que as negociações em busca da paz efetiva serão permanentes. Mas em vez de de referir os ataques raptos e assassinatos que têm ocorrido principalmente nas regiões rurais do norte de Moçambique, optou por falar do diálogo mantido com a RENAMO."A grande conversa era sobre a situação dos ataques de homens armados da RENAMO sobretudo na zona de Funhalouro e conseguimos dialogar com nossos irmãos da RENAMO ...fizemos isso e o resultado é aquele que tivemos. O dialogo não deve parar e que haja paz para sempre", disse Nyusi.
Decretar zona de emergência?
Tofane Abibo, cidadão natural de Cabo Delgado disse à DW que, face à situação no norte do país, o Pesidente já devia ter decretado a região como zona de emergência. "A população está à procura de refúgio nas zonas mais seguras. O Presidente da Republica neste momento ainda não se pronunciou sobre os ataques e estamos à espera dele porque é o comandante em chefe das forças armadas".
Anastácio Marcelino, Jornalista do semanário Dossier & Facto diz que urge uma tomada de posição do Presidente. "Qualquer discurso que venha do Presidente em relação à situação de Mocímboa de Praia é bem-vindo porque a população está à espera de ouvir e é necessário que haja preocupação que demonstre que as autoridades estão atentas à situação do país, porque há pessoas que estão a ser mortas".
Condenação da FRELIMO
A Comissão Política da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) condenou os ataques de grupos armados na província de Cabo Delgado, norte do país, e defendeu o "desmantelamento" dos grupos responsáveis.
Em comunicado divulgado na quarta-feira (13.06) em Maputo, a Comissão Política da Frelimo descreveu os membros dos referidos grupos como "malfeitores", exortando as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas (FDS) a agirem de forma "enérgica".
"Descentralização do país
No mesmo comunicado, aquele órgão de direção do partido no poder em Moçambique apelou à bancada da FRELIMO na Assembleia da República para se empenhar na obtenção de consensos com a oposição em torno do pacote legislativo sobre a descentralização do país, durante a sessão extraordinária agendada para a próxima semana.
Alguns distritos da província de Cabo Delgado têm sido palco de ataques armados de grupos até agora desconhecidos, desde outubro do ano passado.
Nas últimas semanas, mais de 20 pessoas foram assassinadas, incluindo algumas decapitadas, e dezenas de casas incendiadas durante os ataques.
O distrito de Palma, um dos atingidos pela violência, vai ser a base das multinacionais que se preparam para realizar avultados investimentos na exploração de gás natural.
DW – 14.06.2018
NOTA: Talvez fale, se lhe derem tempo, quando chegarem à Ponta Vermelha. Mas lembrou os ataques da Renamo. Interessante!
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE