Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
É muito fácil deixarmo-nos narcotizar pelo mal sob aparências de bem, pelos vícios como virtudes, pelo erro como verdade e pela libertinagem como liberdade. SILVA, Manuel Maria Madureira da – Questões Fraturantes. Évora: Gráfica Eborense, 2016, p. 42.
Andava eu na Universidade quando uma dilecta professora afirmava, muito criticamente, que a sociedade civil activa moçambicana era maioritariamente ignorante. Devo confessar que, à priori, fiquei indignado pela dosagem da afirmação da Professora Alda Romão Saúte. Apenas hoje me apercebi da crueldade da minha ignorância a não perceber aquela lição de vida. Assim, é preciso dizê-lo, o país necessita de mais “analfabetos profissionalizantes” e não de “doutores analfabetos” que a maioria das universidades medíocres pare todos os anos. Um manicómio de ignorantes que se escondem atrás de títulos, fardas, patentes, cargos, pavões de televisão, zero conteúdo mental, nutridos de vaidade e de excessivo exibicionismo verbal e material, tão-pouco questionam, de forma activa e “positiva”, a política e a sociedade. O que dizem não coaduna com aquilo que são, em termos de competência. São, indesmentivelmente, pessoas que estão viciadas em apreciar para baixo. O Padre Manuel Maria Madureira da Silva escreveu, em sua obra Reflexos – Eu, o Espelho e a Consciência, o seguinte: “A necessidade de dar nas vistas anda por aí como o vírus de qualquer gripe. Oxalá esta moda não venha a constituir razão de arrependimento no futuro.”
A ignorância reside no “elitismo”, porque é reservada só a aderentes, que fecha qualquer abertura ao pensamento diferente, a capacidade de ver e pensar autonomamente, enfim, uma “concha” de gente que compra adulações e espicaças mentiras. Um “elitismo” que extrapolou o campo da bajulação e roça agora da ridicularização. Nada hoje segue uma lógica, senão o dinheiro, de que resulta numa má governação, péssima planificação, gestão danosa e abuso de poder. O raciocínio passou a ter um preço, daí que a sociedade civil prefere vender o seu, a troco do servilismo. Uma sociedade civil que abdicou de pensar, colocando na cabeça de uma única pessoa a sabedoria, como se ela fosse emissário de Deus. Abdicou-se de pensar para promover o exercício de beatificação do “chefe”. O “chefe” é o oxigénio que eles respiram. O estômago dos bajuladores exerce, normalmente, o papel do cérebro e tira-se pela boca a “trampa” que devia sair por canal apropriado. Afinal, que sociedade é a nossa? Zicomo e um abraço nhúngue ao Moco, pela lhaneza de carácter.
NOTA: Ouço por aí muita gente dizer que Lula da Silva é inocente. Nunca sequer consultaram o processo (nos países democráticos como o Brasil, a sentença é pública), mas gastam sinergias em dar palpites, desacreditando a justiça brasileira. Poucos questionam, por exemplo, como é que a Vale entrou em Moçambique e os prejuízos que têm causado a milhares de reassentados de Cateme e Mualadzi. Que benefício teve Lula com a Odebrecht? Eu teria que voltar ao berçário do Hospital Provincial de Tete se alguém me convencesse que em Relações Internacionais os almoços são grátis. De resto, nenhuma ajuda é grátis. Ou é feita por interesse ou por amor. Raramente é apenas por amor. Eu penso que os moçambicanos deviam se preocupar mais com os seus compatriotas famélicos e com a fraqueza da sua justiça. Lula é sem dúvida uma boa pessoa, mas não foi forte o suficiente para resistir a tentação da corrupção.
WAMPHULA FAX – 30.07.2018