Um grupo armado matou duas pessoas, feriu dois agentes das autoridades e roubou armamento na noite de terça-feira em Quisingule, aldeia remota do norte de Moçambique, disseram hoje residentes à Lusa.
A povoação situa-se a 12 quilómetros do posto fronteiriço com a Tanzânia, em Namoto.
O ataque à aldeia, no distrito de Palma, cerca de dois mil quilómetros a Norte da capital, Maputo, aconteceu pelas 22:00 e as mesmas fontes referem que os atacantes roubaram armamento não especificado às forças de defesa e segurança moçambicanas que ali estavam estacionadas.
Um residente disse à Lusa ter visto o grupo, que devia ser constituído por mais de 20 homens com armas de fogo, e relatou que algumas casas da aldeia foram incendiadas.
Só na mais recente vaga de violência, desde 27 de maio, morreram pelo menos 40 habitantes, 11 supostos agressores e dois elementos das forças de segurança, segundo números das autoridades e testemunhos da população à Lusa.
Povoações remotas da província de Cabo Delgado, situada entre 1.500 a 2.000 quilómetros a Norte de Maputo, têm sido saqueadas com violência por desconhecidos nos últimos nove meses.
Os grupos invadem as casas de construção precária com catanas em busca de gado, comida, dinheiro e bens de valor e têm provocado um número indeterminado de mortes desde outubro de 2017, algumas com recurso a metralhadoras, além de incendiarem parte das povoações.
A onda de ataques teve início em Mocímboa da Praia com um grupo armado que integrava alguns elementos de um grupo muçulmano que ocupava uma mesquita da vila e defendia que a lei islâmica devia sobrepor-se ao Estado de direito.
Os grupos que têm atacado as aldeias nunca fizeram nenhuma reivindicação nem deram a conhecer as suas intenções.
Os ataques acontecem numa altura em que avançam os investimentos de companhias petrolíferas em gás natural na região, mas sem que até agora tenham entrado no perímetro reservado aos empreendimentos.
Relatórios de investigadores notam que há redes criminosas internacionais ligadas ao tráfico de heroína, marfim, rubis e madeira que estão presentes há vários anos na província de Cabo Delgado e sugerem que a onda de violência esteja ligada a essas redes.
As autoridades têm anunciado centenas de detenções e referem que os supostos agressores estão fragilizados, mas sem qualquer esclarecimento adicional sobre as razões da onda de violência.
Os ataques têm provocado vagas de centenas de deslocados internos que procuram refúgio nas sedes de distrito mais próximas (Palma, Mocímboa da Praia, Macomia, ilha do Ibo e Quissanga).
LUSA – 11.07.2018