Há quase 40 anos, que cerca de 300 ex-combatentes da luta da libertação moçambicana estão no centro de reassentamento de Chijiguiri. Governo já lhes prometeu casas e melhores condições de vida, mas nada foi cumprido.
Tafula Magaia recorda os tempos em que Samora Machel pediu que ele e muitos outros ficassem naquele centro e se focassem na produção de alimentos
Cerca de 300 ex-combatentes estão abandonados à sua sorte no centro de reassentamento de Chijiguiri, no distrito de Homoíne. A denúncia é feita por vários antigos combatentes, que, há quase quarenta anos, deixaram as suas terras-natal e foram para o centro de Chijiguiri à procura de melhores condições de vida.
Depois da luta de libertação, o primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, deu terras aos combatentes para eles produzirem alimentos e prometeu-lhes também habitações, como recompensa pelos seus serviços ao país.
"Saímos de Maputo e [o Presidente] Samora Machel disse que cada qual não pode ir viver em casa, deve viver no centro e aqui nosso objetivo era de produzir", conta um dos ex combatentes, Tafula Magaia.
Projeto falhado
O projeto agrícola era financiado por Itália, que contribuía com tratores, motobombas ou camiões. Anos mais tarde, esse apoio terminou.
Depois do fim da guerra civil, em 1992, o Governo moçambicano ainda ofereceu alguns bois aos ex-combatentes, para ajudar na lavoura. Mas muitas famílias não foram contempladas.
"Depois de terminar o contrato com os italianos, de concreto não estamos a ver nenhuma coisa. Mesmo as promessas de habitação, de uma casa melhorada, nada foi cumprido", explica Gabriel Ramos Rupia, também antigo combatente.
O projeto de produção de alimentos de Chijiguiri fracassou. Agora, os ex-combatentes vivem apenas da agricultura de subsistência. Segundo a ex-combatente Laurinda Filimone, a situação agrava-se de dia para dia.
"Aqui nem todos têm bois, não temos trator para nos ajudar na machamba, e da forma como cultivamos a terra, não se produz nada. Estamos a pedir apoio, pelo menos, para que a pessoa consiga trabalhar dois ou três hectares, para ter uma melhor produção agrícola", apela Laurinda Filimone.
Em declarações à DW África, Lúcia Mate, diretora provincial dos Combatentes em Inhambane, reconhece que houve falhas no projeto em Homoíne, mas promete que o Governo vai agir.
"De facto, continuamos com um número considerável de combatentes com habitação não condigna e reconhecemos que o Estado deveria solucionar este problema. Há um esforço que está a ser feito ao nível do Governo central visando a identificação de parceiros que estejam interessados em apoiar-nos", disse Lúcia Mate.
DW – 10.07.2018