CANAL de Opinião por Edwin Hounnou
Um pouco depois da assinatura do Acordo Geral de Paz, a 4 de Outubro de 1992, assinado entre o Governo da Frelimo e a Renamo, em Roma, um amigo de outras lides que ainda se encontra na vida política activa, embora titubeante, nos afiançou que a Renamo não tem objectivo de chegar ao poder.
Nós olhávamos para a Renamo como o barco que levaria o povo para a outra margem da vida. A ideia nos repugnava porque achávamos que teria que comer ainda muito sal até que chegue a “arca de Noé” que a todos salvaria. Poderíamos acreditar em tudo menos nessa conclusão
quase estúpida, porém, observando, concluímos que os factos falam mais alto que as intenções expressas.
Que a Renamo sempre que estiver para cortar a meta, havia de se atirar ao chão, para não ganhar. Não entendíamos e dissemos que queríamos ver os passos subsequentes. Hoje, temos mais certezas que dúvidas.
Os olhos do nosso amigo enxergavam bem mais longe do que a nossa visão conseguia atingir. A Renamo não deseja ser Governo. A Renamo sempre ensaia um truque qualquer para não ser Governo. A Renamo recusou todas as iniciativas da construção de uma frente comum eleitoral a fim de disputar com o partido Frelimo, que não larga o poder desde que o país se tornou independente, a 25 de Junho de 1975, não só por vontade própria, mas por falta de seriedade nas hostes da oposição.
Nunca as condições objectivas e subjectivas estiveram tão maduras como agora para a Frelimo perder as eleições. As dívidas inconstitucionais, a corrupção generalizada na administração pública, a exclusão política e social são as pontas do iceberg que podem derrubar a Frelimo, mas, desaproveitada pela oposição que perde tempo em lutas intestinais, intrigas e calúnias.
A Renamo ao invés de ser aglutinadora, dispersa e enfraquece a luta que visa afastar a Frelimo do poder. Como a Renamo está a conduzir a sua política, tudo faz para que, quem estiver insatisfeito com o regime da Frelimo, seja integrado nas suas fileiras.
Isso é viável quando se trata de pessoas singulares e não de partidos com expressão e marca confirmadas. A defunta Renamo-União Eleitoral foi feita pela Renamo com indivíduos singulares, desconhecidos nos quarteirões onde moravam, que se supunham dirigentes de partidos sem endereço conhecido nem programa de como pensavam conduzir a sua luta.
Se a intenção da Renamo fosse a de destroncar a Frelimo do poder, não se teria enveredado por desacreditar e esvaziar um partido com o qual poderia ter estabelecido uma parceria inteligente para formar uma frente eleitoral. Ao agir de tal modo, demonstra que o objectivo não é conquistar o poder. A Renamo vem provando que toda a sua luta visa manter o seu estatuto de “general” da oposição, como o segundo maior partido do país.
Porém, esse desiderato contraria, de forma inequívoca, a missão última de uma oposição. Uma oposição que não se bate para chegar ao poder, é dispensável. Já o dissemos, aqui e vezes sem conta, que a Renamo não vence nem vencerá a Frelimo, se não mudar a sua maneira incorrecta de fazer política.
Neste nosso raciocínio, gostaríamos que a História nos provasse que estamos equivocados. Enquanto a oposição se organizar numa frente comum eleitoral, não vai chegar ao poder, ainda que a Frelimo se compare a uma papaia madura que pode cair, só por si, de podre. Basta a oposição, em conjunto, agitar a papaieira para ela se precipitar para baixo, todavia isso não vai acontecer porque, na oposição, há agendas individuais, oportunistas e a luta pelo tacho parece estar na mó de cima.
Não acreditamos que aqueles que chegam à Renamo, quase em debandada, estejam à procura da democracia. Não há nenhum indício que nos possa levar a concluir que a Renamo seja mais democrática que o MDM.
A prova mais evidente do défice da democracia é exactamente a sua indicação para cabeças-de-lista, deixando, para trás, militantes da Renamo que estão esperando por uma oportunidade depois de longos anos de espera e de risco da própria vida.
Eles chegam hoje e, de imediato, são apresentados como estrelas em detrimento dos quadros da casa. É esta democracia de que andam à procura? Existe algo de mais profundo – querem render a Frelimo na arte de bem comer o público e a alegação de democracia serve para tapar a cara de quem esteja demasiado distraído.
O que o motiva os “desertores de topo” não seja amor pela Renamo ou pela causa que esta defende. A real motivação é o tacho e não outra coisa. Os argumentos que alegam da falta de democracia são falsos e inconsistentes.
Porquê eles não exigem que sejam eleitos mas aceitam ser indicados para cabeças-de-lista?
Esta é uma pergunta que carece de uma resposta aberta para desanuviar as dúvidas que pairam não apenas sobre nós mas também sobre mentes de boa gente. A ladainha da falta de democracia no MDM não convence nem mesmo a eles próprios.
O que eles querem é o poder para, também, encherem os bolsos e a Renamo parece ser a escada capaz de os conduzir ao tacho que está à vista. A política não é nenhuma arte para oportunistas.
A nossa posição não tem plano para se tornar poder nem uma política conjugada de luta política. Cada um faz o que lhe vem à gana. A nossa oposição tem vocação especial para ser eterna oposição.
CANALMOZ – 30.07.2018