Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
O nosso grande problema, em Moçambique, é levar mais tempo a comemorar sucessos efémeros, em vez de passar de um desafio ao outro e assim sucessivamente. Extraído de uma conversa com amigo Nkulo.
Eu já uma vez disse, muito dramaticamente, que a Frelimo governará o país por mais 50 anos. No correr do tempo, a minha frágil e humilde hipótese parece estar a ser validada. A razão é evidente: nota-se, desde há algum tempo, uma acelerada desconstrução dos ideais da Renamo (não falo de outros partidos da oposição por serem meras paisagens políticas e enxertias da “perdiz”), pelo qual tantos moçambicanos lutaram. A Renamo deixou de ser aquele partido que lutava pelos direitos dos pequenos – não apenas dos mais fracos – e pela dignidade social de todos.
Os meus olhos, aquosos de tristeza, vêem hoje uma Renamo em decadência moral, que trocou uma causa comum, por interesses de “chicos-espertos.” Eu peço desculpas pela dureza das palavras, mas não encontro outro adjectivo mais ou menos aceitável para qualificar o comportamento daqueles que, pelo roncar do estômago e apetência desmedida pelo poder e cargos de chefia, conduzem a Renamo à hecatombe. A direcção ad hoc da Renamo será responsável pela exclusão das candidaturas dos seus cabeças-de-lista e do averbamento de pesadíssimas derrotas nas eleições autárquicas que se avizinham.
Não tenho a certeza se serei eu que tenho razão. Porém, tenho uma opinião fundada em factos, pois estamos a falar de candidatos que há pouco menos de três meses declaravam juras de amor pelo partido dos irmãos Simango. Sem obras palpáveis, além de verborreia e de politiquices, tornaram-se cavalos de batalha da Renamo para destronar a Frelimo. Que pena! Que amor é esse que nasce do dia para a noite? Será que venderam a consciência por um “prato de lentilhas?”
Lançar pedras à Comissão Nacional de Eleições é um exercício estéril, porque a legislação é cristalina neste aspecto. Não é salutar que um político aprove hoje uma lei, para depois, em função dos seus interesses pessoais, furtar-se das suas responsabilidades. Na minha opinião, em lugar de se gastar papéis e verbo para interpor recursos ao Conselho Constitucional, a Renamo devia reencontrar-se. O reencontro significa, em qualquer contexto da vida, a busca de novos caminhos. Mais vale ganhar pouco do que perder tudo. Espero que a lucidez mental de alguns militares da Renamo, em benefício da democracia, não permita que a Renamo caia na ravina. Caso contrário, a Renamo arrisca-se a pagar caro. Um abraço nhúngue ao meu irmão nhúngue Segredo.
NOTA: Robert Mugabe, meu pai adoptivo, deve estar muito feliz. É que Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, prometeu seguir o exemplo do Zimbabué que equilibrou os direitos dos brancos e dos negros, através da reforma agrária. Merece, pois, o meu respeito e a minha homenagem pela coragem e espírito de justiça. Não há melhor bem do que aquele em que o povo sinta-se dono da sua própria pátria. Convido todo o continente africano a aprender das lições de Mugabe.
WAMPHULA FAX – 27.08.2018