Resumo
Os estudos sobre a Ilha de Moçambique têm destacado a relação de grande dependência que desde sempre esta estabeleceu com o continente próximo e com as diferentes populações que o habitavam. Uma dependência adensada em resultado das transformações políticas, económicas e sociais vividas na capitania de Moçambique na segunda metade de Setecentos. Entre outras, medidas como a autonomia administrativa relativamente ao Estado da Índia, a instauração da liberdade de comércio, o desenvolvimento do tráfico negreiro e a elevação da Ilha a vila com Senado da Câmara promoveram o seu crescimento em direção ao continente fronteiro, a denominada Terra Firme, e proporcionaram a ampliação das oportunidades de negócio da elite insular, os moradores.
Estes, tendo no comércio a sua principal ocupação, possuíam pequenas propriedades agrícolas na Terra Firme cuja exploração se constituiu como um complemento vantajoso das atividades mercantis em que participavam, não raro, em articulação com elas. Por um lado, a agricultura representou uma fonte extra de receita e uma oportunidade de diversificação de negócios que os tornou menos dependentes de um comércio tantas vezes incerto e sujeito à concorrência de outros agentes, como os mercadores baneanes de Diu. Por outro, o domínio daquele território possibilitou-lhes um contato mais próximo com as populações macuas e suaílis vizinhas a quem compravam marfim, escravos e produtos alimentares. Além disso, a exploração agrícola do continente fronteiro permitiu atenuar o problema de abastecimento que afetava a Ilha, particularmente acentuado na segunda metade do século XVIII com a sua afirmação como capital política e administrativa, sede religiosa, militar e naval dos territórios portugueses no sudeste africano e, sobretudo, como um dos principais portos envolvidos no tráfico negreiro em assinalável expansão nas últimas décadas daquela centúria.
Neste contexto, tanto a Ilha de Moçambique como a Terra Firme sofreram significativas modificações. A nossa proposta de comunicação pretende pensar estas modificações sob a perspectiva da territorialização portuguesa daquele espaço continental promovida, em grande medida, por um grupo de proprietários divididos entre a prática comercial e a exploração agrícola.
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