Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
Porque será que os nossos estudantes não estudam, não aplicam as melhores tecnologias, não usam as máquinas mais adequadas e as culturas mais produtivas? E se ficam só pela queixa? Extraído de uma conversa com amigo JRS
Semana finda, enquanto caminhava pela marginal da cidade de Maputo, pus-me a pensar na qualidade do ensino público nacional. Apontei falhas no ensino primário que continua a apresentar um currículo predominantemente ideológico. Reconheço o esforço do governo, sobretudo na expansão do ensino, o problema é que aquilo que se aprende nas escolas não é ciência pura que conduz e transforma a teoria em prática. Ora, se um aluno não aprende a raciocinar bem, a escrever correctamente, a indagar e a esmiuçar os fenómenos sociais, dificilmente poderá se auto-afirmar. Continuaremos a ter um ensino a educar para o desemprego.
Actividades como o plantio de árvores (para compreender a importância da natureza), limpezas colectivas nas escolas (impedindo a eclosão de doenças endémicas como a cólera), abertura de machambas (para ensinar a “pescar”), enfim, a recreação (para descobrir talentos) deixaram de fazer parte do cardápio dos curricula. O resultado disso é que escoamos para as universidades parasitas, cabuladores, gente medíocre e salafrários. O mal não está só do lado do estudante, mas também dos professores. Antigamente, na década de 80 e 90, havia uma espécie de funil que segregava o trigo do joio, para apurar o perfil de professor. Ganhava-se pouco, mas amava-se a profissão, os professores eram verdadeiros educadores. Hoje a profissão foi assaltada por todo o tipo e espécie de gente e interesses.
As universidades são hoje “quaisquer coisas”, sem valor. Porque aquilo que deveria dar valor, a cada dia que passa, é vencido pelas forças do mal. O meu amigo Nkulo, a quem pedi a sua abalizada e experiente opinião, não tem dúvida: quando a gangrena é maior, os medicamentos não funcionam. Assistimos hoje uma inversão da ordem: universidades sem professores e professores sem universidades, universidades sem laboratórios e laboratórios sem alunos, universidades sem bibliotecas e bibliotecas sem livros, universidades sem salas de aulas, salas de aulas sem talento humano. O único fruto que dão é a mediocridade e a disfuncionalidade. A cidade de Maputo, ela só, aglutina mais da metade de universidades do país. Que contributo elas têm para a capital do país? O que é que elas produzem? Os excessos, dizia reiteradamente um amigo meu alentejano, pagam-se caros.
Eu penso que se as universidades deixarem de ser máquinas de impressão de diplomas e dedicarem-se ao saber, o nosso país poderá reinaugurar o futuro iniciado na longa marcha pela liberdade, pelas gerações de 25 de Setembro e 8 de Março.
Zicomo e um abraço nhúngue ao Jr., meu chauffeur.
WAMPHULA FAX – 10.09.2018