Por Capitão Manuel Bernardo Gondola
Fazer desaparecer a Guerra da vida da sociedade e conseguir uma Paz geral é um sonho secular da humanidade. As ideias da Paz universal foram expressas pelos grandes pensadores progressistas ainda na Antiguidade.
Aristóteles, filósofo da Grécia antiga, na sua obra Política, escrevia sobre a aspiração natural dos homens à vida conjunta e à comunidade política. No período do feudalismo, os cientistas e líderes sociais progressista também intervieram contra as Guerras feudais que causavam prejuízos e desgraças às populações inteiras.
O problema de Paz entre os povos propagava-se persistentemente na época da Renascença. Erasmo de Roterdão, destacado filósofo humanista daquela época, escreveu os tratados especiais «A Guerra é Suave para Quem não a Conheceu (1515) e As Queixas do Mundo» (1517). Nestes tratados ele afirmava que a Guerra é um oceano sem fundo que devorava indistintamente tudo, é a causa dos males e desgraças, por ela perece tudo o que é florescente, belo, são e útil. Ele escreveu: «A maioria do povo odeia a guerra e deseja a paz. Só uns poucos, cujo bem-estar infame depende das desgraças do povo, desejam a guerra». Erasmo apelou: «Que se unam todos os homens contra a guerra. Que todos os homens levantem as suas vozes contra ela».
Este apelo à Paz foi apoiado por sebastião Frank (1500-1543), representante dos círculos de esquerda do movimento reformista da Alemanha. Na sua obra «O livro Combativo da Paz» ele condena decidida e energicamente a Guerra como um fenómeno bestial, desumano, contrário à natureza do homem. Sebastião Frank considerava que o triunfo da justiça na terra é absolutamente impossível sem a Paz geral e eterna. E…,você vê; merece uma especial atenção o problema, colocado por Frank, sobre a responsabilidade jurídica e moral do homem pelos crimes de Guerra. Ele lançou a ideia de que, os militares que actuam cumprindo a ordem dos seus
Chefes, não podem pretender absolvição jurídica e moral se participam numa Guerra injusta e cometem pilhagem, assaltos e homicídios sobre a população civil.
Do mesmo modo; sebastião Frank, como a maioria dos outros humanistas daquele tempos, não era de maneira alguma um pacifista inocente que intervinha pela Paz «a todo custo». Ele, por exemplo, reconhecia o direito dos homens a participar nas Guerras justas contra a tirania, contra os conquistadores em defesa do seu país e contra os colonizadores.
Tomas More, grande humanista e fundador da Socialismo Utópico, também sonhava com o estabelecimento da Paz na terra. Na sua obra «A Utopia» ele descreveu um país em que é liquidada a propriedade privada sobre os meios de produção e é estabelecido a propriedade social e em que o povo repudia a Guerra de rapina como acção realmente bestial. Tomas More, ao falar, tal como Sebastião Frank, sobre a necessidade da defesa do seu território pelos povos e da luta contra os agressores estrangeiros, escrevia que os povos «nunca começam a guerra em vão, mas somente quando defendem as suas fronteiras ou expulsam o inimigo que invadiu um país amigo, ou têm pena dum povo oprimido pela tirania e com as suas acções libertam-no do jugo do tirano e da escravidão; isso, fazem-no por amor à humanidade».
Como ardente defensor da Paz destacou-se o argentino João Baptista Alberti (18101884), que escreveu o livro «O Crime da Guerra». Sendo filósofo, jurista, sociólogo, estadistas destacado escritor de talento, demonstrou claramente que a Guerra injusta arruína a economia, a cultura, a liberdade e o bem-estar duma Nação.
João Baptista Alberti classificava tal Guerra de crime pelo qual os responsáveis deveriam ser submetidos a um castigo severo. Ele escrevia assim: «O crime da guerra pode consistir nos seus objectivos, quando se procura a conquista, a destruição total, a vingança aberta, a repressão da liberdade e da independência dum Estado e a escravização dos seus habitantes; nos meios, quando se recorre à traição, engano, incêndio, veneno, corrupção, suborno…». Você vê; a Paz e liberdade são inseparáveis, afirmava João baptista Alberti, elas exercem uma influência
positiva sobre a educação das pessoas e as qualidades do homem de Paz não se diferenciam das do homem de liberdade.
As ideias da Paz foram defendidas em nome da moral pelo filósofo idealista alemão Immanuel Kant. No «Tratado Pela Paz Perpétua» (1795) do qual aconselho vivamente sua leitura. Kant apresentou a tese sobre a criação da União de Estados livres que defendesse a soberania de certos países.
A ideia de Paz geral foi expresso também nas obras dos pensadores progressistas russos. A.N. Radíchtchev (1742-1802). Radíchtchev, apelava para a manutenção de relações entre Estados na base do direito e para a solução pacífica dos litígios. Além disso; ele compreendia que para salvaguardar uma Paz duradoira, é preciso transformar, por via revolucionária, a ordem pública e estabelecer um regime social justo.
Pela Paz entre os povos e a eliminação da Guerra na vida da sociedade lutou N.G.Tchernichévski (1828-1880), democrata revolucionário e grande pensador russo. Ele assinalava que o peso da Guerra recai, antes de tudo sobre os trabalhadores. «Toda a guerra é arruinadora para um homem trabalhador; para ele só é útil a guerra que é travada para expulsar os inimigos do território da sua pátria»
Um amplo programa para estabelecer as relações pacíficas entre os Estados e evitar os conflitos militares foi apresentado por V.F.Malinóvski, iluminista russo do século XIX. Na sua obra «Reflexão Sobre a Guerra e a Paz» propôs o projecto da União de todos os Estados, Organizações Internacionais em defesa da Paz, a qual deveria solucionar os litígios que surgissem e, caso necessário, aplicar as sanções coercitivas contra os responsáveis pela Guerra. V.F.Malinóvski, escrevia: «A guerra, quando não é uma autodefesa forçada, mas a agressão contra o povo pacifico vizinho, é a empresa mais desumana e bestial que ameaça com o extermínio e a devastação não somente o povo agredido mas também, em igual medida, o povo que desencadeia a guerra».
Você vê; aos expressar desta maneira as aspirações seculares dos povos a acabar com as Guerras, os pensadores progressistas do passado propuseram muitas ideias importantes.
E…,os ardentes apelos à Paz lançadas por grandes humanistas do passado, são hoje em dia levados à prática pelos povos do mundo todo.
Manuel Bernardo Gondola