Caravanas magras denunciam por estes dias o medo da população em apoiar abertamente a campanha eleitoral, queixam-se à Lusa os candidatos de partidos da oposição moçambicana na Gorongosa.
A vila e a serra são um bastião da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) que dificilmente se vai desassociar do nome do ex-líder, Afonso Dhlakama, que por ali tinha o seu refúgio e que ali morreu de complicações de saúde, a 03 de maio.
A vida decorre numa aparente normalidade, o comércio e os transportes fluem naquela que foi uma das importantes vilas coloniais da província de Sofala, centro de Moçambique.
As armas do Governo e do braço armado da Renamo calaram-se em Dezembro de 2016, mas os partidos da oposição asseguram que os efeitos das hostilidades militares continuam frescos na memória da população, provocando receio em dar apoio activo às campanhas.
A situação, dizem à Lusa, é agravada com a actual perseguição política das suas caravanas, por homens civis armados, instalando um clima de intimidação, que tem retraído os apoiantes a vestirem a cor do partido e a dar a cara nas campanhas, sobretudo da oposição.
"Nós estamos num distrito muito turbulento. Houve pessoas que foram atacadas com catanas", precisou à Lusa Alfredo Magaço, cabeça-de-lista da Renamo na Gorongosa, num comício, no final de uma marcha no bairro Nhambondo, justificando assim a fraca afluência.
"As pessoas têm medo", sublinhou.
Magaço sustentou que muitos, incluindo funcionários públicos, apoiam a Renamo na clandestinidade, por temer represálias, apesar de viverem num país democrático.
Já o cabeça-de-lista do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daniel Missasse, refere que, além das provocações - geralmente protagonizadas por crianças que se infiltram nas caravanas com propaganda da Frelimo - em todos os comícios de bairro há civis armados.
"Em todos os extremos e cantos onde vamos estamos sendo perseguidos", denunciando as acções de "homens secretos" e armados, com o objectivo de "inviabilizar a campanha", precisou à Lusa Daniel Missasse.
A campanha já de si pobre, pela falta de recursos, segue com medo na vila da Gorongosa, que está colorida com panfletos de propaganda politica, com maior visibilidade para o partido da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), que governa o município desde que foi criado o município.
Os partidos da oposição dizem que centenas dos seus panfletos foram tapados pelos da Frelimo, cujo cabeça-de-lista, considera, por sua vez, que há espaço para todos os partidos fazerem politica na Gorongosa.
Alicha Sabite desvaloriza as denúncias da oposição, referindo à Lusa que "quando um (partido) apanha derrota no terreno procura se justificar".
Garante que, se alguém anda atrás deles, não é a Frelimo e questiona: se estão sendo perseguidos, então "como conseguem fazer política", como têm feito durante a campanha.
Nos seus manifestos, transmitidos aos munícipes, os partidos políticos prometem, de uma forma geral, melhorar a vida dos cidadãos, que enfrentam desafios no acesso à água e energia, falta de transportes públicos, de vias de acesso e de infraestruturas sociais, além de um desemprego elevado.
Resta circular entre os bairros por moto táxis, aquilo a que na vila da Gorongosa chamam 'badjadjas' e que vão enfrentando os caminhos acidentados.
LUSA – 06.10.2018