A China anunciou esta segunda-feira que vai retomar, ainda que de forma limitada, o comércio de produtos procedentes de tigres e de rinocerontes. Esta medida provocou reações de ativistas que lutam pelos direitos dos animais, que temem um aumento do tráfico destas espécies em risco.
O comércio de produtos como o osso de tigre ou o chifre de rinoceronte será autorizado em circunstâncias "particulares", anunciou o governo chinês num decreto assinado pelo primeiro-ministro, Li Keqiang.
Entre estas circunstâncias "particulares" está a investigação científica, a venda de obras de arte e "investigação de tratamentos médicos".
Os ossos de tigre e os chifres de rinocerontes (moídos) são ingredientes cobiçados na medicina tradicional chinesa. No entanto, para se ter acesso a estes produtos, será necessária uma autorização especial, sendo que apenas os médicos de hospitais reconhecidos pela Administração Nacional de Medicina Tradicional poderão utilizá-los.
"É uma decisão devastadora", revelou Leigh Henry da WWF (Fundo Mundial para a Natureza) ao The New York Times. "Não posso superestimar o potencial do seu impacto."
Os volumes comerciais serão "estritamente controlados" e o comércio destes produtos estará proibido, exceto nos casos previstos.
Esta medida revoga a proibição total adotada em 1993, mas o mercado negro substituiu o comércio legal e muitos produtos proibidos entram na China pelo Vietname, de acordo com os movimentos ecologistas.
Várias organizações criticaram a decisão do governo chinês, pois consideram que, embora tenha como objetivo o uso de produtos derivados de animais em cativeiro, esta vai aumentar a ameaça sobre a fauna selvagem.
"Com este anúncio, o governo chinês assina a sentença de morte dos rinocerontes e dos tigres silvestres", acusa Iris Ho, diretora da associação Humane Society International.
Ho acredita que a nova política de Pequim vai resultar na criação de uma rede de "lavagem" de produtos de caça ilegal.
"O regresso do comércio legal pode vir a não servir apenas para encobrir o tráfico clandestino, mas também para estimular a procura que diminuiu quando a proibição entrou em vigor", lamentou Margaret Kinnaird, diretora de biodiversidade do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
LUSA – 30.10.2018