Por Capitão Manuel Bernardo Gondola
Não estou aqui para propor nenhum modelo político de aplicação actual.
Contudo; os pensadores e filósofos antigos tinham uma visão da política que hoje é inaplicável. Não vou agora, estender-me sobre a valorização ou não desses modelos ou seja; estará errado ou não o modelo de hoje ao tornar inaplicáveis os modelos políticos como de Aristóteles e São Tomás.
Isso; eu deixarei para conclusão particularmente de cada um de vocês.
Mas, eu já adianto uma conclusão que é a de que, para esses pensadores não só para Aristóteles, não só para São Tomás. Mas desde Platão, desde Sócrates, passando pelos romanos, passando por cíceros, havia uma imbricação indissolúvel entre ética e política. Embora; tanto São Tomás como Aristóteles, digo que a política é a ciência prática arquitectónica, chegando a dizer São Tomás, que dentre as ciências práticas é a mais divina. Ambos viam a política como um coroamento ou seja; uma culminação da ética.
Ou seja; não há solução de continuidade entre a ética e política, isso vem desde Sócrates. Lembremo-nos, que Sócrates ao ser preso. E, estava condenado a morrer teve a oportunidade de fugir do kalabouço. Vários amigos seus, arranjaram lá um meio dele fugir do kalabouço e portanto da pena de morte. Que fez ele? Disse não!... Vou morrer para servir de exemplo de bom cidadão. Você vê; está aí já tudo uma filosofia ético-política pressuposta e; isso vai seguindo ao longo da história.
Platão; com seu livro a República e seu livro; as leis aprofunda isso com muita força.
Os romanos, sobretudo o povo romano dos primeiros tempos dizia um historiador, «que, os romanos preferiam ser pobres num império rico, a ser ricos num império pobre». Essa mera afirmação e isso é verdade, essa mera afirmação, essa mera atitude de todo um povo; já pressupõe essa imbricação indissolúvel entre ética e política.
E isso prossegue; Maquiavel no plano das ideias foi quem fez uma cisão [corte], um corte radical entre ética e política. E…, de que maneira?! A ética segundo Maquiavel passa a ser assunto privado ou seja; particular de cada pessoa. Ao passo; que a política sim é pública embora na verdade você vê; não seja pública porque a política passa a ser uma cratologia. Ou seja; passa a ser um estuda da maneira de como o Príncipe ou o [governante] manter-se no poder.
Vocês já leram o Príncipe de Maquiavel? Pelo menos já devem ter notícias dele.
Na verdade; o Príncipe tem grande parte, um rol de conselhos ao Príncipe de como saber mentir para manter-se mais ou menos bem no poder. E isso inaugura, no campo das ideias já que, na vida real isso já estava em prática há muito tempo. Maquiavel inaugura um novo modo de pensar e fazer a política completamente distinto da ética; da ligação ética e política da antigamente e que na verdade mata a ética.
Porque o facto mesmo de que, a política seja vista sobretudo como uma maneira por mais as vezes mentirosa de manter-se no poder é, já um esmagamento efectivo da própria ética.
Então; hoje quando se fala no mundo todo e…, particularmente com muita força em Moçambique, que é preciso moralizar a ética, isso já pressupõe o rompimento desse elo inextricável entre ética e política. Certamente; se não tivesse havido Maquiavel, por exemplo; não se falaria de moralizar a política; se falaria em descobrir os laços íntimos entre a ética e a política. Ou seja; em descobrir a politicidade da ética e a eticidade da política.
Toda essa crise moral da política hoje no País e não só…, certamente é produto repito claro de circunstâncias históricas, e…,não é minha intenção expor porque senão seria uma autêntica aula de história. Mas no campo das ideias é produto de um homem chamado Maquiavel e isso depois tem desdobramentos. Lembremo-nos um dos principais livros de Nietzsche «A Vontade de Poder». Está ai presente; a interiorização da vontade e o rompimento entre ética e política. Porque a vontade de poder, não pressupõe nenhuma base ética como pressuporia nos pensadores antigos.
E…,é nesse sentido; que a cidadania como ehos [morada] ¹ do mundo político teria se perdido na modernidade. Não se pode negar entretanto, que a política e a ética permanecem com preocupações relevantes. Do ponto de vista ético, pode-se dizer então; de um modo bastante simples e bastante resumido, que a passagem à modernidade, traz entre outras características; a predominância do interesse sobre as paixões. Ou seja; se nós no voltarmos para o herói homérico, o conquistador romano, o cavalheiro medieval, nós veremos, que eles têm como marca e características, viver as paixões tanto quando se submetem a elas, quanto quando as dominam.
De modo que; o homem moderno [actual] tem o seu centro de gravidade moral no interesse; seja ele exacerbado ou regulado pela razão. Destarte; você vê, por interesse, [na política] não entende mais a simples satisfação das necessidades mas, o cultivo de valores algo, que tem a ver com as grandes transformações ocorridas.
Então; para os pensadores antigos, o ser político, é a culminação do ser ético. Ou seja; VOCÊ, não é antes político para depois, ter uma condição que te corrija eticamente. VOCÊ; só é político porque atingiu o ápice ético.
n/b:
¹morada não é constituída simplesmente pelas quadro paredes e o tecto. A casa precisa ser vista a partir de dentro. A casa para ser morada tem que ser habitável, vale dizer; tem que ter um bom ambiente.
Maputo; 29/10/ [20]18
O
Manuel Bernardo Gondola