Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected])
Ficar por trás não é desistir da viagem – Alberto Viegas (1927-2014), professor e escritor moçambicano.
“Um filho não se deita fora”, disse-me um adepto dos “Mambas”, a nossa selecção nacional. De facto, se os “Mambas” morrerem, a pátria também não fica viva. Há pessoas neste país que vivem com o transtorno da negação. O mal da obsessão é que ela mata ou seca tudo à volta. Foi a pensar na Pátria que recusei a onda de estigmatização contra os “Mambas” e decidi juntar-me às centenas de adeptos que se fizeram ao Estádio Nacional do Zimpeto.
Numa partida que contava para a 5ª jornada do Grupo K de qualificação para o Campeonato Africano das Nações (CAN’2019), a realizar-se nos Camarões, os “Mambas” estavam proibidos de perder. Consciente disso, os pupilos de Abel Xavier “fizeram das tripas coração”, vencendo à sua congénere da zambiana por uma bola a zero.
A história do jogo (não quero aqui tirar qualquer protagonismo aos jornalistas da Rádio Moçambique que são excelsos profissionais na narrativa desportiva de que me sirvo de exemplo) pode ser contada da seguinte forma. Os “Mambas” começaram bem o jogo, com jogadas construídas, passes assertivos e muitas fintas do “puto maravilha” (Dominguez) que fizeram o delírio dos adeptos.
Os Chipolopolo (selecção zambiana de futebol) não tiveram forças para vencer uma selecção famélica como os “Mambas” que na antecâmara do meio da segunda parte da partida marcou o golo solitário de Reginaldo que mantém Moçambique na corrida para a fase final. O golo agitou o Estádio Nacional do Zimpeto. As cadeiras vazias, estranhamente, pareciam todas ocupadas e ouviam-se vozes que ecoavam. Vozes que irradiavam para fora do estádio um “viva Moçambique, avante 'Mambas'”.
Não me contive e quando dei por mim, o rosto já estava inundado de irreprimíveis lágrimas de emoção. Olhei para o banco da nossa selecção nacional e vi um manguito incompleto de Abel Xavier. Era um justo e merecido manguito. Não para os Chipolopolo que merecem o nosso respeito, mas para os seus detractores que esperavam uma derrota dos “Mambas” para aumentarem suas indústrias de críticas destrutivas. Não deu Abel Xavier, mas dei eu. Zicomo (obrigado) e um abraço nhúngue ao Jorge Nhabanga, fervoroso adepto dos “Mambas”.
WAMPHULA FAX – 19.11.2018