O problema com os nossos dirigentes é que eles não sabem que não sabem. Julius Nyerere in Daily News, Dar es Salaam, 25/10/1975
O “apagão” que afectou as caixas automáticas e pontos de pagamento electrónico da rede bancária moçambicana nos dias 16 a 21 de Novembro do ano em curso criou prejuízos incomensuráveis à economia nacional. Infelizmente, na luta de touros, o prejudicado é o capim: povo! Pois é.
O sistema foi restabelecido e os bancos retomaram às suas sagas exploratórias sugando ainda mais o povo que sempre suportou e suportará sem qualquer resignação a elevadas taxas nas operações do dia-a-dia. Por isso, faço minhas as palavras do músico zimbabueano Hosiah Chipanga: “Deus salve o capim, porque os touros estão a lutar. O trabalhador é torturado por servir o patão.” De facto, tenho de reconhecer – o que aliás faço com grande prazer – que o entendimento entre as partes só foi possível porque os interesses exploratórios são exactamente os mesmos. Não foi por pena ou solidariedade ao povo moçambicano – “um povo que não luta pelos seus direitos não merece respeito” – que houve acordo, mas pelo desejo frenético de os bancos ganharem muito dinheiro.
“Há males que vêm por bem”, diz o ditado. Com efeito, o “apagão” constituiu, para alguns zobuenses, um raro momento de equilíbrio entre os semelhantes (filhos do mesmo pai – Deus). É que os zobuenses vivem na pele o “apagão” há mais de 20 anos, altura em que, sem razão aparente, fechou-se a única agência bancária ali existente que facilitava a vida daqueles infortunados.
Desde então, não tem havido, além de murmúrios de alguns citadinos e de pouquíssimos apelos de escribas, uma única alma do governo que saísse em defesa dos zobuenses. Nada. Por outro lado, nenhum banqueiro está disposto em instalar um banco naquela localidade que é uma das mais produtivas da província de Tete. Dizem que Zóbuè é terra de feiticeiros e não merece banco algum. Cá por mim, a utilidade do Zóbuè está no voto.
Uma agência bancária, no Zóbuè, faria uma grande diferença e atenuaria o sofrimento dos professores, do pessoal da saúde e dos membros das forças de defesa e segurança que abandonam seus postos de trabalho para se deslocarem à vila de Moatize e/ou à cidade de Tete para movimentarem suas contas bancárias.
A ausência de um banco num ponto transfronteiriço é uma questão de perversão da política pública que deve ser corrigida. Os zobuenses merecem ser escutados e considerados como qualquer moçambicano. Há necessidade de mostrar aos nossos dirigentes que um banco comercial no Zóbuè pode dinamizar a economia de Tete.
O meu amigo Chabualo, que já anda há vários anos nesta longa auto-estrada da escrita, fazia pouco do sofrimento dos zobuenses. Dizia ele que a falta de um Banco, no Zóbuè, não lhe interessava. Porém, o “apagão” deu-lhe uma lição: “Quando há um incêndio no jardim do vizinho temos de saber emprestar a mangueira para apagar o fogo.” É caso para dizer que "Pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Eu acredito na paciência dos zobuenses. Eles sabem esperar, lutando para o sucesso. Os zobuenses não dormem na esperança. Reconhecem que, estar atrasados no desenvolvimento, não é tragédia. As portas do sucesso abrir-se-ão. Zicomo e um abraço nhúngue às meninas do Ferroviário de Maputo (especialmente à minha eterna amiga Deolinda Gimo), pela conquista da Taça dos Clubes Campeões Africanos de basquetebol seniores femininos (passe o pleonasmo).
WAMPHULA FAX – 26.11.2018