CANAL DE OPINIÃO por Edwin Honnou
Nós concordamos, plenamente, que o país tenha pontes de grande vulto como esta vislumbrante, vistosa, a de Maputo-Katembe, mas feitas com o nosso dinheiro, com o nosso esforço. O nosso país tem tudo para produzir e construir as suas infraestruturas sem ter que estender a mão para ninguém.
Que o país tenha palácios, grandes avenidas mas do nosso suor. Neste momento, ocorre-nos a ideia de que temos que avançar sobre os nossos pés e sabermos o que precisamos hoje e amanhã para as gerações vindouras, sem deixar-lhe um pesado fardo da nossa incompetência de fazer as coisas. Temos que nos despir da falsa ideia das grandezas de termos a maior ponte suspensa de África ou de outra coisa que nos arrepia.
Temos que nos perguntar a nós mesmos se temos escolas de qualidade para os nossos filhos, se temos uma agricultura comercial eficaz para matar a fome e se a nossa indústria é capaz de transformar o que produzimos nas machambas. Se andamos a nos endividar para erguermos as fábricas que fecharam as portasmuitas vezes, por nossa culpa. Muitos dos nossos governantes não estão preocupados em alavancar a economia que está de rastos devido às más práticas dos nossos gestores.
Esta deve ser uma pergunta permanente quando batemos à porta para pedir dinheiro. Os nossos governantes, saliente-se do tipo novo, quando batem à porta, pedem dinheiro para construir um aeroporto em lugar desconhecido onde ninguém chega nem precisa. O que acontece é que o país vai ficando cada vez mais endividado. Até o gás que ainda não começou a jorrar vai para pagar dívidas ilegais. Temos a grave doença de não priorizar nada e o governo orgulha-se tanto disso. Perdemos muito dinheiro com coisas que poderiam ficar para amanhã, por não saber escalonar as prioridades, como é o caso da ponte Maputo-Katembe que é boa mas não é nenhuma prioridade, pelo menos, neste momento.
O argumento de que se trata de ligar o país de Norte a Sul é uma falácia que não resiste a nenhum debate sério. Este argumento não passa de propaganda política barata. Suponhamos que a ponte Maputo-Katembe seja, de facto, prioritária, mas tinha que ser mesmo em plena Cidade Maputo? Porquê trazer uma infraestrutura tão monstruosa como esta para a Cidade que já anda apinhada de viaturas? Para nós, foi uma péssima ideia construir esta ponte sobre Maputo porque traz todo o tráfego para a Capital.
Porquê não foi construída, por exemplo, em Campoane, arredores de Maputo, a fim de dar a possibilidade à Cidade de Maputo de se expandir? Em Campoane, a ponte não teria essas dimensões colossais de “a maior ponte suspensa de Africa”, o que é falso. Até pode ser que seja verdade, mas isto é o fundamental para nós. Teríamos, certamente, uma ponte de dimensões mais reduzidas, mas, servindo os mesmos interesses. Se assim fosse, a Vila de Boane haveria de crescer mais rápido. Não teríamos os grandes problemas de reassentamentos que apareceram na edificação desta gigantesca ponte.
Pensamos que existem outras razõespesaram e outras motivações, que desconhecemos devem ter falado mais alto para procederem assim. Temos, em Nacala-Porto, um aeroporto internacional às moscas, produto dos nossos visionários.
O país terá que pagar por esses erros que esta gente comete, alegadamente, em nosso nome. Muito dinheiro enterrado aí para nada, numa combinação com todas as características criminais. Alguns dos intervenientes, do outro lado, estão presos.
Entre nós, ninguém foi preso nem, pelo menos, interrogado. Em breve, teremos um aeroporto, nos arredores da Cidade de Xai-Xai, em Chongoene, para servir interesses de desconhecidos. Talvez para aterrarem as aeronaves que transportam o presidente Filipe Nyusi e seus acompanhantes.
Não foi concebido para o desenvolvimento económico de Gaza. Acreditamos que não foram ouvidos os gazenses se preferiam um aeroporto a boas estradas para escoarem os produtos agrícolas, boas escolas para os seus meninos, bons centros de saúde, bons serviços veterinários para assistirem o seu gado. No nosso país, as prioridades residem nas cabeças de quem esteja no poder. Tudo isso é um grande mistério que só os governantes conhecem.
Não bastaram os maus exemplos da negociata da EMATUM, PROINDICUS e MAM que deixou a nossa economia no lixo e o país ostracizado. Esses senhores não aprendem com os erros que andam a cometer.
Algo muito obscuro que os não demove dos erros que submetem, de forma recorrente. Gostaríamos de perceber o que se passa porque o país se pode desenvolver sem estrangular o povo, para isso, basta ser racional para aproveitar, na íntegra, os recursos que Deus plantou no nosso território.
Está ficando provada a tese segundo a qual o que faz um país rico não são os seus recursos mas a sua gente, a inteligência dos seus governantes. Os nossos são uns piratas que conduzem a nossa aeronave para um despenhamento certo, se não nos acautelarmos.
Algumas vozes aparecerão a dizer que somos contra o desenvolvimento. Nada mais falso. Somos, sim, contra a forma como o governo faz as coisas. Somos contra a ausência de prioridades porque achamos que com os 785 milhões de dólares gastos na construção desta ponte, poderiam ser aplicados na construção de estradas, reactivar empresas fechadas, melhorar os centros de saúde. (Edwin Hounnou)
CANALMOZ – 14.11.2018