Centelha por Viriato Caetano Dias ([email protected] )
A História nunca se repete, mas rima. Mark Twain (1835-1910), escritor norte-americano.
Antes de perder a vida naquele fatídico acidente de viação, a 2 de Abril de 1995, o meu pai proferiu uma frase que eu ainda hoje conservo e dedico atenção: “brinques com tudo, menos com a Frelimo. A Frelimo é um partido nganganga”, isto é, forte.
Também Mário Soares, no programa intitulado Conversas de Mário Soares, contou uma história interessante sobre a grandeza da Frelimo. Conta ele que quando visitou o gabinete de trabalho de Leonid Brejnev, em Moscovo, reparou que havia na parede central a bandeira do Partido Frelimo ao lado da do Partido Comunista da União Soviética. Pasmado, Soares questionou a importância daquela bandeira no centro nevrálgico do poder soviético. Brejnev teria dado a seguinte resposta (citação de memória): “estes são os únicos, em África, que absorveram integralmente a filosofia da nossa doutrina”.
O que há de comum nestas duas histórias? Primeiro, a ideia de que a Frelimo é um partido muito forte, activo e inquebrável. Segundo, é que os alicerces da Frelimo são profundos, sólidos e inabaláveis, incapazes de serem destruídos com pequenos episódios do caminho.
A Frelimo não herdou apenas a filosofia da doutrina comunista. Herdou também o gene, cultura, ideologia, aspirações e a capacidade do livre arbítrio: sem medo do eco das suas decisões. Em todos os processos da sua metamorfose, a Frelimo soube conquistar e manter o poder. Grande parte dessa herança, embora em desuso devido à adopção do capitalismo, ocupa uma posição rainha no Estatuto do partido e na alma dos conservadores reformados que definiram o código de honra da Frelimo.
Como nem todo o milho da assadeira é torrado, há na Frelimo um grupo de privilegiados que constroem “muros de Berlim” em volta do poder e fecham-se para o povo. Nisso, não posso negar a desgraça de algumas das suas políticas, as quais trazem sofrimento ao povo, como nunca jamais se viu. Por exemplo, a legitimação e a didáctica da corrupção através da permanência de dirigentes julgados e condenados pela justiça. Mas também a problemática da pobreza que nasce da ineficiência dos alguns dirigentes que não conseguem transformar as potencialidades naturais e humanas em oportunidades para pôr em prática o desenvolvimento sustável e endógeno do país. Por conta disso, há milhares de moçambicanos que não têm comida regular nas suas mesas e nem medicamentos.
E nisso tem razão o meu amigo Nkulu “É claro que hoje, tendo em conta as constantes e industriais asneiras da Frelimo, qualquer míope tem razão e até os atiradores sem pontaria acertam, porque a abundância de alvos a curta distância favorece.”
Concordo com os que dizem que a Frelimo está em ebulição. E, neste ano em particular, está numa grande encruzilhada. O dossier da paz com a Renamo está congelado, os ataques em Cabo Delgado ameaçam lançar Moçambique numa guerra de secessão, se não houver inteligência e estratagema para acabar com o grupo que causa terror (“o terrorismo é uma táctica, um meio para atingir um fim e não se pode declarar guerra a uma táctica”), o caso Chang que embaraça o Estado moçambicano, as eleições que irão decorrer num clima de crispação política, além da crise económica e financeira.
Todos estes factores exigem da Frelimo uma profunda reflexão. Deve haver uma reforma séria e sem complacência contra a podridão do sistema no seu todo, para resgatar o enlace nítido e inequívoco entre o partido e o povo.
É minha convicção que a Frelimo vai regenerar-se diante destes “assados”, porque ainda não nasceu uma oposição capaz de destruir a Frelimo. A actual oposição não é uma oposição para governar os destinos do país. É uma oposição contra Moçambique. É uma oposição para criar instabilidade e facilitar a entrada do neocolonialismo. É uma oposição que nasce e é alimentada pelos inimigos da nação moçambicana. E, nessa toada, há uma certa sociedade civil que não ama o país e crítica sem solução. Uma crítica cega cujos objectivos são conhecidos: destruir a Frelimo. Ninguém consegue destruir a Frelimo com golpes baixos. Se há uma coisa que eu aprendi é que há desafios na vida que temos de passar e superar sozinhos. Penso que é isso que faz da Frelimo um partido forte: a capacidade de regenerar-se e de arrepiar caminho. Zicomo (obrigado) e um abraço nhúngue ao jornalista Fernando Matico, leitor assíduo destas minhas centelhas.
WAMPHULA FAX – 14.01.2019