A consultora Eurasia considerou hoje à Lusa que a detenção do ex-ministro das Finanças Manuel Chang servirá para pressionar o antigo governante a fazer novas revelações que "deverão implicar o antigo Presidente Armando Guebuza".
Numa nota enviada à Lusa no seguimento da detenção de Manuel Chang na África do Sul, em trânsito de Maputo para o Dubai, o diretor para a África Subsaariana da Eurasia, Darias Jonker, disse que "a extradição de Chang vai provavelmente desvendar mais revelações sobre o escândalo da dívida oculta, já que os Estados Unidos deverão usar as acusações iniciais para pressionarem Chang, coagindo-o a cooperar com as investigações internacionais".
Para este analista, "estas revelações deverão implicar o antigo Presidente Armando Guebuza e identificar a localização de 700 a mil milhões de dólares de fundos públicos que continuam por apurar, e que provavelmente estão na posse direta ou indireta de altos dirigentes da Frente para a Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder)".
Em causa estão os empréstimos contraídos por empresas públicas moçambicanas entre 2013 e 2014, no valor de 2,2 mil milhões de dólares, que foram escondidas das contas públicas apesar de terem o aval do Estado, que a acusação da Justiça norte-americana diz ter tido a assinatura do então ministro das Finanças, Manuel Chang, que é acusado de ter recebido pelo menos um suborno de 5 milhões de dólares.
A pedido dos Estados Unidos, que emitiram o mandado de detenção internacional, Manuel Chang está detido em Joanesburgo desde 29 de dezembro.
A dívida oculta de Moçambique, no valor de 2.200 milhões de dólares (1.920 milhões de euros), representa metade do custo total do país com as dívidas, apesar de valer menos de 20% do total em termos absolutos e está em investigação pelas autoridades norte-americanas, por suspeitas de corrupção.
Além do antigo ministro das Finanças moçambicano, a investigação que está a ser realizada pela justiça norte-americana levou à detenção de outros três antigos banqueiros do Credit Suisse, em Londres, e de um intermediário libanês da Privinvest, no aeroporto de Nova Iorque.
A 'dívida oculta' é a expressão utilizada para denominar os empréstimos feitos no princípio desta década a três empresas públicas: a Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), a Mozambique Asset Management (MAM) e a ProIndicus, três entidades tuteladas pelo Ministério da Defesa e que apresentaram projetos de segurança marítima, usando o Credit Suisse e o VTB como os parceiros financeiros.
Na segunda-feira, na sua primeira posição pública desde a detenção de Chang, o Ministério Público moçambicano disse que os EUA não responderam a uma carta rogatória expedida em março de 2017, sobre o processo relativo às dívidas ocultas.
"Relativamente aos EUA, a PGR [Procuradoria-Geral da República] emitiu no dia 30 de março de 2017 uma carta rogatória, seguida de diversos aditamentos, o último dos quais a 14 de março de 2018, solicitando informações", refere o documento, acrescentando que foram constituídos 18 arguidos em Moçambique entre servidores públicos e outros cidadãos, indiciados da prática de crimes de abuso de cargo ou função, abuso de confiança, peculato e branqueamento de capitais, no âmbito do processo.
LUSA – 08.01.2019