Ataques a aldeias do norte de Cabo Delgado
- Em entrevista ao matutino notícias, o ComandanteGeral da Polícia disse que estava a espera de ouvir a razão dos ataques, “sobretudo da boca do empresário sul-africano”
As autoridades moçambicanas, particularmente as Forças de Defesa e Segurança (FDS), continuam mesmo a acreditar no envolvimento do empresário sul-africano, Andre Hanekon, nos ataques que já atingiram várias aldeias de, pelo menos, cinco distritos da região norte de Cabo Delgado.
Em entrevista ao matutino notícias, o Comandante-Geral da Polícia não aceitou admitir qualquer tipo de relação causa-efeito entre o início da exploração do gás natural na bacia do Rovuma com os ataques que já duram mais de um ano na região norte de Cabo Delgado. Para ele, só as autoridades judiciais poderão trazer as reais causas dos ataques em curso, a partir do julgamento dos implicados detidos e já ouvidos pelo Ministério Público.
De forma particular, Bernardino Rafael apontou o dedo acusador ao empresário sul-africano. O responsável policial disse que Andre Hanekon é que devia explicar, pela sua própria boca, as razões por detrás dos ataques que já fizeram perto de 200 mortos, entre população civil, elementos das Forças de Defesa e Segurança, assim como alguns elementos dos grupos atacantes.
“A verdade é que há grupos de pessoas que financiam estas acções. Esperemos que a justiça nos traga uma razão plausível a partir dos indivíduos que estão a ser julgados, sobretudo da boca do empresário sul-africano detido e apontado como o logístico do grupo. Está bem identificado no processo e prestava serviços a Anadarko. Aguardamos o pronunciamento judicial sobre o seu grau de envolvimento” – disse Bernardino Rafael, citado pelo diário notícias.
Na sua acusação contra o empresário sul-africano, a Polícia e o Ministério Público arrolam como parte da prova, instrumentos considerados “armas proibidas” encontradas em casa do acusado. Entre as ditas provas estão flechas, azagaias, catanas, machados e pólvora. Entretanto, em torno disso, Francis, a esposa de Andre Hanekon, justificou a posse dos produtos e instrumentos achados com a necessidade de usos lícitos, entre ornamentação, adorno e ainda utilidade doméstica.
Na entrevista, Bernardino Rafael não aceitou a ideia de as Forças de Defesa e Segurança estarem a enfrentar dificuldades sérias no controlo da situação. Para ele, as autoridades estão a fazer o trabalho que deve ser feito e sucessos têm estado a ser alcançados.
“Temos que ter fé que em coordenação com as comunidades é possível resolvermos o problema. Dois malfeitores podem criar problemas numa aldeia. E, por vezes, poder encontra-los torna-se relativamente difícil. Mas há um trabalho que esta a ser feito no sentido de encontrarmos melhor forma de controlar” – apontou o responsável policial.
Sobre a corrupção no seio da Polícia, entende Bernardino Rafael que a mensagem de combate ao fenómeno está sendo acatada, mas, mesmo assim, o combate deve continuar. Citou o exemplo de, no ano passado, oito casos terem sido detectados e encaminhados à justiça, além da expulsão de 37 agentes por venda e aluguer de armas e associação para delinquir.
MEDIA FAX – 23.01.2019