Por Major Manuel Bernardo Gondola
No dia 21 de Setembro de 1677. O que é que se passa nesse dia. É uma grande comoção na Europa culta, a Europa dos Governos, a Europa dos teólogos, a Europa dos filósofos. Naquela altura está a morrer um homem e é muito importante saber se, o que é que vai suceder aquele homem naqueles momentos, porque o que suceder e do que suceder, pode resultar numa revolução na Europa.
E essa pessoa que está a morrer é exactamente Bendito Spinoza [1632-1677]. Um homem com quarenta poucos anos, escreveu muito pouco, apesar de ser muito famoso, as pessoas do mundo todo [Alemanha, França e Inglaterra] em viagem ia falar com ele na aldeia onde vivia.
E o que fazia para ganhar a vida depois de ter sido um judeu de origem portuguesa, o pai era um negociante de figos e da aguardente do Algarve para Amsterdã, que queria obviamente que seu filho fosse um bom comerciante. Mas o filho não só…, se rebelou contra ele como se rebelou contra a sinagoga e que se rebelou também contra a cristandade portanto, um homem fora do baralho. Como se diria.
Este homem ganhou a vida a polir lentes dos óculos mas como sabem nessa altura não havia máscaras como tal ele foi ingerindo silicone toda vida e aos 42 dois anos estava sem pulmões e morreu.
O homem estava morto e qual era o grande problema? O grande problema era só este. É que, toda sua teoria filosófica assentava na ideia de que Deus não existe. Claro que ele não dizia, que Deus. Nem tão pouco isso ele dizia. Ele dizia, que Deus era própria natureza. E portanto, ele não negava a existência de Deus. Mas para eles, ele era um ateísta; acabou-se.
Qual era a ideia. Que se esta ideia prevalece na Europa é o fim da política europeia. Estamos ainda num período, em que o Governo político e Governo religioso estão muito unidos, se a religião é uma farsa se Deus não existe, a política é uma farsa.
Este homem pobre, que vivia na casa de um carpinteiro com estas ideias estava a revolucionar a Europa. Então, o grande problema era este. Este homem é um charlatão porque os seres humanos por natureza são crentes em Deus ele tem andado a dizer, que Deus não existe mas no momento de morrer é o momento da verdade e o momento da verdade ele vai reconhecer, que Deus existe e nessa altura vai chamar o confessor.
E então, por incrível que pareça puseram detective [vigias/seguranças] à porta da casa do carpinteiro onde ele vivia, para saber se o confessor entrava porque se o confessor entrar obviamente era prova de que, o Spinoza no momento da verdade tinha afinal, finalmente reconhecido, que Deus existe e a Europa estava tranquila.
Só que, o grande problema os detectives andaram por lá, devem ter comido os hamburguês da época durante algumas horas e Spinoza demorou algum tempo a morrer, para não morrerem a fome a verdade é que, não entrou nenhum confessor e portanto, Spinoza morreu exactamente com as crenças, que tinha defendido ao longo da sua vida. Isto causou uma convulsão enorme na Europa.
Imaginam hoje, alguém, com alguma ideia radical estar a por em causa o Partido, o Governo político. Não!
Não quer dizer, que não as acha. Mais é muito raro hoje. Não quer dizer, que não haja momentos históricos em que isso não seja possível. Mais é muito raro porque a política hoje tem uma voracidade [capacidade] de conseguir formatar muito do pensamento e formatou duma maneira muito mais subtil [suave], que podeis imaginar por meio da lavagem cerebral.
Manuel Bernardo Gondola
Maputo, 24 de Fevereiro 20[19]