Apesar do desgaste sofrido pelo MDM (Movimento Democrático de Moçambique) nas eleições de Outubro, o seu papel vai continuar relevante em várias autarquias do país, em função do seu posicionamento como componente estratégico da oposição moçambicana.
Em vários municípios do país, o MDM, se aliado à Renamo, pode fazer a vida cara ao partido dominante, a Frelimo, apesar das dúvidas de comportamento criadas exactamente nas últimas eleições municipais.
Por clivagens internas, o MDM viu partir membros importantes para a Renamo, um partido de onde vieram também muitos militantes, quando Daviz Simango entrou em rota de colisão com Afonso Dhlakama, em 2008. Nessa altura, o MDM rapidamente ganhou espaço como a terceira força política de Moçambique, granjeando simpatias nos meios urbanos, sobretudo entre os jovens com mais educação. Também soube capitalizar o descontentamento
de muitos militantes da Frelimo, que dificilmente votariam Renamo, mas que se sentiram confortáveis no voto em Daviz Simango. Os bairros de cimento votaram MDM, depois de uma vergonhosa decisão da CNE(Comissão Nacional de Eleições) ter impedido o partido de se apresentar em nove círculos eleitorais.
Nas autárquicas de 2013, boicotadas pela Renamo, o MDM conseguiu quatro municípios. Em Maputo, Venâncio Mondlane chegou aos 40%. Porém, a morte do edil de Nampula, Mahamudo Amurane, em Outubro de 2017, assinalou o movimento descendente do MDM, que nem sequer conseguiram manter “a capital” do norte nas eleições intercalares que se seguiram. Mas, para a história do multipartidarismo, é importante anotar que a Renamo ganhou as intercalares de Nampula com o apoio explícito do MDM na segunda volta.
As deserções de pedras notáveis ao longo de 2018 determinaram uma atitude ressabiada na CNE, onde em votações chave, para impedir a candidatura de Venâncio Mondlane em Maputo, o MDM votou com a Frelimo. De forma patética, na mesma semana da tomada de posse nas 53 cidades e vilas autárquicas, é tornada pública uma derradeira tentativa do MDM em impedir que Manuel de Aráujo, a autarca trânsfuga de Quelimane, reassumisse o município, que ganhou de forma contundente nas urnas, defendendo as cores da Renamo.
Apesar da escandalosa fraude eleitoral em Marromeu, o voto alinhado do MDM com a Renamo dará a presidência da assembleia municipal à oposição. O mesmo cenário pode acontecer na Matola. António Muchanga, com o apoio do MDM, pode ser o presidente da assembleia municipal da mais populosa autarquia de Moçambique. Na Beira, a autarquia do MDM que salvou o partido do seu hara-kiri político, mesmo assim, Daviz terá que contar com o eventual apoio da Renamo, se quiser ter apoio para governar. Embora possa igualmente cortejar a Frelimo.
À hora que é redigido este editorial, dizem-nos que há um acordo de bastidores entre a oposição e que o acordo se pode estender até Outubro, quando o país for a votos para um novo parlamento.
Antes da sua morte em Maio de 2018, Dhlakama negociou com Daviz um acordo eleitoral. A última proposta não chegou às mãos de Dhlakama, mas o documento existe.
Mais que a Renamo, o espectro do voto útil, da bipolarização, que se verificou em 2014 e em Outubro de 2018, pode determinar um maior enfraquecimento do MDM, o que é mau para a oposição.
E é mau para a democracia em Moçambique. O MDM precisa de se reinventar, perceber os erros cometidos e recuperar da sua própria auto-flagelação.
A democracia moçambicana, como todas as democracias, precisa de uma oposição forte.
A democracia moçambicana precisa de um MDM sério, responsável. Forte!
SAVANA – 08.02.2019