A saída do presidente da principal força de oposição moçambicana, Ossufo Momade, da serra da Gorongosa está dependente do enquadramento do braço armado do partido no exército e na polícia, disse hoje fonte da Comissão Política do Partido.
"[A saída de Ossufo Momade da Gorongosa] depende dos consensos porque nós não podemos abandonar os nossos homens de qualquer maneira. Ele vai sair só depois de traçarmos uma estratégia e sabermos que os nossos irmãos não estão abandonados", disse Gania Mussagy, membro da Comissão Política da Renamo, em declarações aos jornalistas à margem de uma reunião do partido em Maputo.
Ossufo Momade, que foi eleito presidente no último congresso do partido no mês passado, transferiu-se de Maputo para a Serra da Gorongosa em junho do ano passado, ainda como líder interino, após a morte, a 03 de maio, de Afonso Dhlakama, que presidiu o partido por 39 anos e que residia precisamente na Serra da Gorongosa.
A Serra da Gorongosa acolheu a base central do partido, quando ainda era movimento de resistência armada, contra o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), durante os 16 anos de guerra civil no país, que terminou em 1992.
Na altura, a Renamo justificou a ida de Momade à Gorongosa com a necessidade de o mesmo estar perto dos guerrilheiros do partido que vivem no local.
De acordo com a responsável da Comissão Política da Renamo, o partido espera que dentro de dois meses o processo de enquadramento do seu braço armado nas forças armadas e polícia seja concluído, no âmbito do memorando assinado em agosto entre o chefe de Estado, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo.
"O trabalho está andando e nós trabalhámos muito com a ideia de que aquilo que se diz é o que se vai cumprir. Não gostamos de desconfiar daquilo que foi combinado", concluiu Gania Mussagy, frisando, no entanto, que a saída de Momade da Gorongosa está refém deste ponto negocial, quando faltam oito meses para as eleições gerais moçambicanas.
O Governo e Renamo continuam em negociações para acabar definitivamente com a crise político-militar.
Em dezembro do ano passado, o Governo moçambicano nomeou interinamente três oficiais provenientes da Renamo para cargos de chefia no exército moçambicano, no âmbito do memorando de entendimento assinado em agosto entre as partes.
No entanto, para a Renamo, o Governo moçambicano não está a respeitar os acordos assinados, na medida em que o memorando não prevê nomeações interinas, além do facto de só terem sido nomeados três oficiais em vez dos 14 previstos no memorando.
Oficialmente, o atual processo negocial entre o Governo da Frelimo, partido no poder, e a Renamo, principal força de oposição, arrancou há pouco mais de um ano, quando Filipe Nyusi se deslocou à serra da Gorongosa, centro de Moçambique, para uma reunião com o então líder da Renamo, que morreu em 03 de maio do ano passado devido a complicações de saúde.
Além do desarmamento e da integração dos homens do braço armado do maior partido da oposição nas Forças Armadas e na polícia, a agenda negocial entre as duas partes envolvia a descentralização do poder, ponto que já foi ultrapassado com a revisão da Constituição, em julho.
LUSA – 06.02.2019