Por Major Manuel Bernardo Gondola
Estudo Frantz Fanon, há mais de 25 anos não por questões académicas mas por causa da militância, uma vez que, toda sua trajectória intelectual vai ser marcada pela sua participação nos movimentos de libertação nacional na África [Argélia].
Os Condenados da Terra foi escrito num momento em que o Frantz Fanon estava engajado também com a Revolução argelina e com a guerra da independência da Argélia. Então, ele já estava se aprofundando cada vez mais no seu pensamento anticolonial e na sua crítica ao imperialismo. O livro teve bastante importância, ou seja, teve uma repercussão bastante grande entre os pensadores do terceiro mundo.
O livro vai ser bastante citado por autores de época subsequente; no Brasil nós podemos falar do Paulo Freire [Em Pedagogia do Oprimido] que cita Os Condenados da Terra para pensar a questão entre o opressor e oprimido. Glauber Rocha, também em a Estética da Fome. No manifesto a Estética da Fome no Cinema Novo.
O livro influenciou muita gente e para vocês terem uma ideia entre eles, o filósofo francês Jean Paul Sartre, que inclusive escreveu um belíssimo prefácio [abertura] na edição de Setembro de 1961 porque, vale lembrar também que esse livro vai sair na França foi logo depois da libertação da Argélia que contou com a luta da FLN.
Especificamente, Frantz Fanon, nos Condenados da Terra, ele vai pensar a descolonização enquanto obra do próprio colonizado. Libertar-se da opressão, tem que ser obra do próprio oprimido. A libertação não deve ser consentida pelo opressor, ela deve ser conquistada pelo oprimido. Então, nos Condenados da Terra ele enfatiza bastante a necessidade do protagonismo do próprio colonizado em sua libertação. Nesse caso, ele vai pensar no racismo enquanto um mecanismo estruturante da sociedade capitalista. Nesse caso, ele não vai ver o racismo como algo solto [isolado]. Ele vai ver essa função objectiva que o racismo tem.
Note-se que, Frantz Fanon é uma referência bastante importante e se tornou uma referência marcante para os movimentos negros, para os movimentos de descolonização [FRELIMO, MPLA, PAIGC, ANC, ZANU-FP], para os movimentos negros nos Estados Unidos, inclusive porque justamente ele é um autor negro, que está falando de questões pertinentes a opressão que os negros estavam vivendo. Então, ele próprio é um oprimido buscando a sua própria libertação. Ele é o oprimido se colocando como agente [sujeito] da sua própria libertação tomando a voz para si, tomando a prática para si.
Os aspectos da colonização que Frantz Fanon está destrinçando na África dos anos 50 do século passado eles ainda têm a sua actualidade em sociedades, em sociedades multirraciais. Então, a importância de ler Frantz Fanon nas Escolas e Universidades e não só…,é essa. Ou seja, aquele mesmo racismo estruturante, aquele mesmo racismo que funcionou como mecanismo de estratificação social, como mundo colonial, ele voltou e funciona em sociedades como; a moçambicana, como nos Estados Unidos, no Brasil, na África do Sul, como Europa.
Portanto, as reflexões de Frantz Fanon vão muito além e elas podem ser lidas da óptica de qualquer grupo oprimido.
E…, para encerra, uma citação e ela exprime muito isso que eu comentei até agora. Então ela diz o seguinte:
A violência que presidiu ao arranjo do mundo colonial que ritmou incansavelmente a destruição das formas sociais e indígenas, que arrasou completamente os sistemas de referências da economia, os modos de aparência e dos vestiários, será reivindicado e assumida pelo colonizado no momento em que decidido ser a historia-tos a massa colonizada sendo o fayner na cidade interditas. Fazer explodir o mundo colonial é doravante uma imagem de acção muito clara, muito compreensível e que pode ser retomada por cada um dos indivíduos que constitui o povo colonizado. Desmanchar o mundo colonial não significa, que depois da abolição das fronteiras se vão abrir vias de passagem entre as duas zonas: a colonizada e a do colono.
Destruir o mundo colonial é, nem mais nem menos abolir uma zona, enterra-la profundamente no sono ou expulsa-la do território.
Portanto, é com esse trecho bastante forte de Frantz Fanon em «Os Condenados da Terra» que eu encerro meu artigo.
Maputo, aos 31 de Março 20[19]
Manuel Bernardo Gondola