Um ponto focado por Celso Correia na conversa com Inês Moiane, cuja transcrição foi reproduzida em edição recente do «Canal de Moçambique», trata do cambalacho em torno da transferência da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) para o Estado moçambicano no âmbito de um acordo firmado em 2006 entre os governos de Portugal e Moçambique. Celso Correia, actual ministro da terra e desenvolvimento rural do governo de Filipe Nyusi, confirmou terem sido pagas avultadas comissões. Segundo o próprio Correria, ele "era o estratega daquela brincadeira" e que "em vez de trinta", poderia ter "tirado dali cem, duzentos, trezentos milhões". Está, pois, estabelecida a posição de Celso Correia como intermediário na negociata.
Cerca de quatro anos depois, a WikiLeaks divulgou uma série de documentos do Departamento de Estado norte-americano. Um deles, é um telegrama expedido pelo Encarregado de Negócios da Embaixada dos Estados Unidos em Maputo, Todd Chapman, dando conta de que o então presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, teria recebido uma comissão entre 35 e 50 milhões de dólares resultante da compra da HCB. Refere o telegrama que o banco português, BCI, foi quem havia organizado o financiamento. Celso Correia viria a tornar-se, no ano seguinte ao da "brincadeira"’, presidente do Conselho de Administração do BCI em Maputo.
O escândalo despoletado pelo telegrama diplomático abalou as hostes do regime da Frelimo que de imediato se lançou numa campanha de desinformação. Foram accionados os habituais mecanismos. Como sempre, a AIM, organismo dependente do gabinete do Primeiro-Ministro, foi o veículo utilizado nessa campanha, em particular o serviço de língua inglesa, dirigido por Paul Fauvet. Para consumo internacional, através de rede astutamente montada, a AIM disseminou uma "análise" assinada por Fauvet com o título, "U.S. Chargé d'Affaires Lied to Washington" (Encarregado de Negócios dos Estados Unidos Mentiu a Wahington).
Apoiando-me em argumentação falaciosa, na "análise" Fauvet nega tudo: que Guebuza tivesse recebido uma comissão pela transferência da HCB ou que tivesse existido um intermediário agindo em nome de Guebuza, factos agora confirmados por Celso Correia.
Não apenas isso. Fauvet negou também outros factos referidos no telegrama de Chapmam, incluindo o envolvimento do então presidente moçambicano na exploração da portagem da Matola, ilegalmente erigida numa rodovia que não integra o chamado «Corredor de Maputo», negócio que persiste até aos dias de hoje em prejuízo dos residentes de zonas fora da jurisdição do referido corredor.
Trata-se de uma campanha de desinformação paga com dinheiros dos contribuintes moçambicanos. A AIM, suposta "agência de notícias", serve, desde sempre, de caixa-de-ressonância da Frelimo e do regime por ela tutelado. Paul Fauvet é funcionário desse regime desde 1980.
Numa altura em que Filipe Nyusi, impelido por processos judiciais a decorrer além-fronteiras, tenta lavar a imagem de um regime que actuou sempre à margem da lei, deve pôr termo a mais esta ilegalidade em que os dinheiros do Estado, dos contribuintes, portanto, são abusivamente utilizados para camuflar cambalachos e negociatas. Numa palavra: para desinformar.
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