A pouco menos de 11 dias da reunião do Comité Central
-Também estão em curso esforços de conciliação Nyusi-Samito
Samora Machel Jr (Samito), filho do Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique independente, deverá ser ouvido esta semana pelo Comité de Verificação da Frelimo, no âmbito do processo interno que lhe foi movido pelo partido governamental.
Esta informação foi confirmada ao mediaFAX pelo próprio Samito. “Sim, confirmo”, disse, na manhã deste sábado, sem, no entanto, entrar em pormenores. A audição de Samora Machel Jr, que acontece a pouco menos 11 dias da reunião do Comité Central, surge no seguimento de um processo disciplinar, em virtude de ter tentado concorrer como cabeça de lista da AJUDEM, nas eleições autárquicas de 10 Outubro do ano passado, acto que, segundo o órgão de disciplina do partido, viola os estatutos. Samito corre risco de expulsão. Em finais de Janeiro passado, Samora Machel Jr, através de uma carta enviada ao Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, defendeu a convocação de uma reunião magna, para discutir a situação actual do partido, que, segundo ele, “está a viver uma crise profunda”.
Segundo fontes consultadas pelo Africa Monitor Intelligence (AM), a sessão de audição deverá incluir uma exposição sobre os fundamentos da alegada violação dos estatutos que sustentam o processo disciplinar, mas o risco antevisto para o partido, numa eventual expulsão de “Samito”, filho de dois dos principais símbolos da Frelimo (Samora e Josina Machel) e da independência do país, deverão ditar medidas mais brandas da parte da liderança da Frelimo para lidar com o caso.
Samito mantém uma antiga relação pessoal com Filipe Nyusi, de quem foi colega na escola primária da Frelimo em Tunduro, durante a luta de libertação nacional. Em círculos reservados circulam indicações de estar em curso diligências de sectores neutros da Frelimo no processo de Samito, mas preocupados com o efeito potencial da emergência de uma candidatura presidencial saída do seio do partido.
A ideia é promover um ambiente de conciliação entre Samito e Filipe Nyusi. O principal objectivo dos referidos elementos da Frelimo, que têm movido influências junto de figuras próximas de Nyusi e de Samito, é promover um encontro entre ambos, de que possa sair um entendimento para o futuro.
De acordo com a AM, as referidas acções de “lobby” têm-se estendido também ao estrangeiro, nomeadamente Portugal, onde Samito conta com apoios.
Do lado de Filipe Nyusi acredita-se que poderá ser decisiva a influência de Celso Correia (ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural) junto do PR. Correia é director de campanha eleitoral da Frelimo e está empenhado em levar o partido à eleições “uno e indivisível”, estratégiaconsiderada, em sectores importantes do partido, como incontornável para a vitória.
Samito em 2024
Sendo considerada segura a candidatura presidencial de Filipe Nyusi em 2019, acto que deverá ser confirmado na reunião ordinária do Comité Central este mês (22 a 24), o entendimento poderia passar por uma candidatura de Samito nas eleições seguintes, em 2024.
Mas fontes consultadas pelo mediaFAX argumentam que tal não é líquido, tendo em conta que há “um acordo”, de que em 2024, o poder deve descer para o Centro, entrando no xadrez o actual ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, José Pacheco, do qual se diz que tem “um acordo de cavalheiros” com Filipe Nyusi.
Pacheco apoiou Nyusi nas primárias do partido de 2014, do qual terá recebido garantias para as eleições de 2024.
A quem também argumente que Samito poderia avançar para a dissidência, ou, em situação de ruptura, abandonar mesmo a Frelimo, criando um novo partido político.
Tal exercício constituiria uma ameaça ao poder da Frelimo, numa altura em que o país enfrenta os efeitos da quebra de confiança na relação com parceiros internacionais devido as chamadas dívidas ocultas.
A AM faz notar que a promoção da unidade da Frelimo é vista entre a liderança do partido como vital para assegurar a vitória de Filipe Nyusi nas próximas eleições. Para tal, considera-se necessário que Nyusi reconheça as “linhas críticas”, que podem alargar a base de apoio dos potenciais contestatários, em vez de rejeitar o diálogo, o que pode ser interpretado como uma recusa de negociação de qualquer entendimento.(F.C)
MEDIA FAX – 11.03.2019