A consultora de risco francesa Coface melhorou a análise sobre o risco de Moçambique para o segundo pior nível, D, antecipando uma ligeira melhoria do crescimento económico, que continua limitado pela crise da dívida oculta.
"A economia deve recuperar ligeiramente em 2019, mas vai continuar limitada pela crise, no seguimento das revelações de 2016 sobre a dívida oculta do Governo", lê-se na análise que estes consultores de risco fazem a Moçambique.
"A construção, que era um dos sectores que potenciava o crescimento antes da eclosão da crise, deve continuar a sofrer com os constrangimentos de financiamento do Governo, ligado ao congelamento das ajudas internacionais", acrescenta o documento, a que a Lusa teve acesso.
Na análise, os consultores melhoraram o nível global de risco, de E para D, ficando assim no penúltimo degrau da escala de risco do país e também no que diz respeito ao ambiente económico, antevendo uma aceleração do crescimento económico de 3,3% do PIB, em 2018, para 3,5% este ano, e um aumento da dívida pública, de 121,5%, no ano passado, para 129,2%, este ano.
"O uso pelo Estado de fontes nacionais de financiamento, em detrimento do sector privado, prejudica o sector bancário, o que faz com que apesar da descida das taxas de juro pelo banco central, o crédito ao sector privado deve continuar a cair, o que terá um impacto no sector dos serviços, principalmente nas actividades comerciais", acrescentam os analistas na nota.
A contracção no crédito vai também ter um impacto na agricultura, o sector que foi o principal motor da recuperação económica depois da severa seca de 2016.
Sobre o orçamento para este ano, a Coface escreve que "o défice deve aumentar, em linha com o aumento dos custos de servir a dívida e também devido às despesas com a organização de eleições, apesar das medidas para alargar a base tributária".
O acordo preliminar anunciado com os credores da dívida soberana no valor de 726,5 milhões de dólares, quase 640 milhões de euros ao câmbio de hoje, "foi um primeiro passo necessário para ultrapassar a crise, mas não resolve o problema do sobre-endividamento, já que as dívidas atrasadas continuam elevadas, e a possibilidade de haver mais incumprimentos financeiros ´default') é elevada", apontam os analistas.
O problema podia ser solucionado com um empréstimo por parte do Fundo Monetário Internacional (FMI), "mas a falta de clareza sobre a utilização de 2 mil milhões de dólares de dívida escondida deve continuar a impedir as negociações com o Fundo", concluem os analistas.
LUSA – 19.03.2019