O novo presidente da multinacional Kraft Heinz nasceu em Lisboa, seguiu aos oito anos com os pais para o Brasil no rescaldo do 25 de abril. É fanático pelo Benfica. Tem casa na Beira e está a construir outra em Caxias
O destino da Heinz, a multinacional do ketchup entretanto fundida com a Kraft, sempre teve uma sabor português. A primeira ligação fez-se com Teresa Heinz, nascida em Moçambique e com passaporte português, que casou com o herdeiro do conglomerado. Desta vez, a ligação é mais intensa e menos simbólica.
O lisboeta Miguel Patrício, nascido em 1966, que viajou com os pais para o Brasil no rescaldo do 25 de abril foi escolhido pelos acionistas para imprimir um novo rumo à multinacional alimentar Kraft Heinz. A companhia definha e precisa de um salvador para recuperar em bolsa.
A pista Mação
Uma das última vezes que Miguel Patrício esteve em Portugal foi há quatro anos para o funeral da mãe, em Mação, a terra de origem dos pais e das brincadeiras de infância, com amigos como o agora juiz Carlos Alexandre. Tem casa na Beira Baixa e está a construiu uma moradia em Caxias.
Após a passagem pelo Brasil, os pais regressaram à Beira Baixa. Mas, Miguel já estava na faculdade, em São Paulo e ficou. Após a licenciatura estreou-se na carreira internacional pela Johnson & Johnson no Brasil, EUA e América Central. Depois seguiu para a Coca-Cola e Philip Morris. Voltou para o Brasil para integrar a cervejeira Brahma, iniciando uma carreira de 20 anos que o levaria a diretor de marketing global do conglomerado o Anheuser-Busch InBev (absorveu a Brahma), dona de marcas como a BudWeiser, Stella Artois ou Corona, tornando-se diretor global de marketing, com escritório na sede operacional, em Nova Iorque.
O Félix da Kraft Heinz
Entrevistado pelo Observador, Miguel Patrício partilha a sua costela portuguesa. É fã de Mariza e diz que João Félix é o melhor jogador do mundo.
O Benfica está na primeira linha das suas paixões. E segue os jogos em direto, a menos que os compromissos o impeçam. Cabe-lhe na Kfrat Heinz replicar o talento de Félix no Benfica.
Para os acionistas da Kraft Heinz, entre os quais Warren Buffet (um guru pouco habituado a perder dinheiro), Miguel Patrício é a esperança para que a companhia recupere o brilho dos tempos anteriores à fusão. Um homem do marketing e das vendas sucede a um gestor focado mais no corte de custos do que na expansão do negócio.
Nas duas décadas, na Anheuser-Busch InBev, a sua missão de maior sucesso resultou da sua passagem por Xangai, pela direção da sucursal asiática do conglomerado cervejeiro.
“O grande desafio é crescer o top line, fazer crescer a faturação e o lucro também”, diz Miguel Patrício citado pelo Observador. E garante que está preparado e está preparado para dar conta do recado e dar a volta à multinacional do ramo alimentar. Cita a "experiência em criar marcas e fazê-las crescer" e a expansão que imprimiu às marcas da AB Inbev na China.
Cada dia mais português
Miguel Patrício fez toda uma carreira entre o Brasil e Estados Unidos,. Da infância em Mação recorda o jogo das apanhadas com amigos como o Carlitos, o juiz Carlos Alexandre, com quem mantém viva a amizade.
Gosta de Mariza, passa horas no Spotify a ouvir fado e, claro, não perde os jogos do Benfica.
Esta segunda-feira a celebração foi a dobrar. Horas depois do anúncio da sua nomeação para o cargo para o qual fora convidado há meses, festejou a goleada do Benfica ao Marítimo.
Eis o lado lusitano que Miguel traça ao Observador: “Eu nasci em Portugal e cada dia sou mais português. A minha irmã mora em Portugal, tal todos os meus tios e os meus primos. Tenho casa na Beira Baixa, estou a construir uma outra em Caxias.Cada dia sou mais fã de Portugal, eu amo o país, adoro a evolução que tem tido, um país que está na moda. Lisboa está cada vez mais bonita. Amo a música portuguesa, adoro perceves, acompanho o Benfica todos os dias, sou fã do João Félix, um jogador incrível, o melhor jogador do mundo”.
Uma família global
Sobre a nova missão ao leme da Kraft Heinz, uma das companhias mais valiosas do mundo com uma receita de 22 mil milhões de euros (2018) e um universo laboral de 39 mil pessoas, o gestor diz que está preparado para o desafio.
A dimensão global “não me assusta”. “Já trabalhei no Brasil, Canadá, EUA, Bélgica, trabalhei e vivi na China por 5 anos. Sou um cidadão do mundo”, diz Miguel Patrício, casado com uma panamiana. Duas das filhas nasceram no Brasil, a terceira no Canadá. Uma família “realmente global”.
EXPRESSO(Lisboa) – 23.04.2019