Cartas ao Presidente da República (150)
EUREKA – Por Laurindos Macuácua
Presidente, Presidente. A Frelimo com as mesmas manhas. No recente conclave dos camaradas, previa-se que houvesse ajuste de contas entre o lobby das dívidas ocultas, o grupo de Samora Machel Júnior e os apoiantes do Presidente Filipe Nyusi. Nada disto aconteceu. Selou-se uma paz, embora com vigas frágeis. O que está em questão agora é a sobrevivência do partido e das elites que mamam do Estado moçambicano.
O núcleo duro, à volta de Filipe Nyusi, teve que fazer opções: evitar qualquer contestação em torno do Presidente da República e do seu desempenho e confirma-lo sem contestações como candidato da Frelimo às presidenciais de Outubro.
De facto houve muitos arranjos. Também seria suicidário arranjar-se um novo candidato, à esta altura, para concorrer pelo partido às presidenciais de Outubro. Por isso o assunto Samito ficou de fora, quando se esperava que fosse o mais debatido. Por outro lado, há um assunto que passou despercebido à lupa dos demais: dívidas ocultas.
Tenho eu informações de que a instrução contraditória do processo das dívidas ocultas devia ter começado entre os dias 10 e 15 de Maio corrente. E não ocorreu. A juíza da causa foi orientada para adiar esta fase processual porque seguir-se-ia a pronúncia e os tempos, até as eleições, estão apertados.
Em simples palavras: não pode haver julgamento das dívidas ocultas antes das eleições. Por outro lado, acho que o Presidente, como disse numa das cartas, ainda está perplexo. Não percebe como é que foi parar à cadeira de Presidente da República. A entrevista que deu esta semana a um dos jornais da praça é disso elucidatório.
As suas respostas, Presidente, são uma sucessão de improvisos incoerentes. O Presidente não tem nenhuma estratégia articulada, para não falar de visão. O Presidente não tem uma estratégia económica exequível para o País se libertar, em tempo útil, da dependência económica externa.
Para um País independente há mais de 40 anos, é uma humilhação que o seu Orçamento do Estado dependa em mais de 50 por cento de ajudas externas. E fecharam-nos a torneira devido ao roubo frelimista. Veja a miséria!
O Governo sempre propaga que a agricultura, em Moçambique, é a base do desenvolvimento. Todavia, o chefe desse Governo não tem uma estratégia publicamente conhecida para pelo menos o País produzir o que precisa para comer. Este é um País que não consegue produzir o suficiente para alimentar o seu povo e tem um Presidente que não percebe bem o que deve fazer.
Na verdade, se houvesse um debate televisivo com os outros candidatos à Presidência da República, tenho cá as minhas dúvidas de que o Presidente teria sucesso. E é por isto- e muito mais- que se questiona essas percentagens norte-coreanas que o Presidente tem alcançado dentro do seu partido, em termos de preferência.
Preferem-lhe porquê? Que obra o senhor tem? Nada! Tudo isto é uma operação camuflada para a sobrevivência das elites.
DN – 17.05.2019